Sou do tempo que João Pessoa era quintal de Recife, a Veneza brasileira, com suas pontes e rios, culinária refinada e multicultural. É a terra, afinal, do bolo de rolo, uma iguaria de sabor inigualável, do frevo e do maracatu. E também do Galo da Madrugada, o maior bloco carnavalesco do mundo.
Por sua vez, a capital da Paraíba era nesse tempo um quintal no sentido literal da palavra. Nas ruas e avenidas a cidade frutificava as quatro estações do ano. E olha que tinha de tudo. Jambo na Almirante Barroso, mangaba na zona sul e caju nas praias do litoral.
E não parava por aí. A salada era ainda mais abundante nos quintais das casas de então. Na minha, por exemplo, que ficava no bairro do Roger, se cultivava banana e figo. Na vizinha, jaca e sapoti. Na dos meus avós, as duas goiabas — brancas e vermelhas — além de manga espada. E não era só. Tinha ainda quem plantasse graviola, pitomba, abacate, carambola e até mesmo a exótica romã.
Uma aquarela viva que contrastava com o mundo novo do prazer e do consumo, representado pela Mesbla e Viana Leal — com suas escadas rolantes —, pelo cinema São Luiz — onde assisti Hair — e pelo teatro Santa Isabel — onde assisti a versão de Antunes Filho para Macunaíma.
E tinha também a vida noturna da Conde da Boa Vista e suas imediações — com destaque para o Mustang — e nas praias do Pina e Boa Viagem.
Por essa época, cheguei a morar no seu centro, mais especificamente na bucólica Rua da Aurora. Saí de lá para fugir de um temporal que arrastou tudo pelo rio. Voltei, por assim dizer, para o meu quintal, deixando os galos e as noites para trás.
E durante todos esses anos pude assistir a uma transformação que fez valer aquela história de que o mundo não dá voltas. De fato, capota.
Por isso, passados cinquenta anos, o que se vê de fato é que o quintal chegou até a sala de estar e aproveitou a paisagem para abrir as portas e janelas para as matas e para o mar.
Nesse sentido, conversei essa semana com um empresário do setor imobiliário, que é pernambucano de nascimento, e ele chegou a levantar a possibilidade de João Pessoa ultrapassar Recife em no máximo cinco anos. E lembrou que já superamos a capital pernambucana no número de bares e restaurantes.
Isso sem falar no Polo Turístico, que vai acrescentar doze mil leitos aos cerca de quinze mil já existentes.
São razões de sobra, portanto, para acreditar que, finalmente, a namorada do Brasil casou com o sucesso. Mais que natural para quem já é a mais bonita do mundo, além de ser brasileira, hospitaleira e do seu coração.
