O multimídia e acadêmico Abelardo Jurema Filho reproduz em vida a simbologia filosófica do “bom vinho” com o passar do tempo reproduzindo, como acontece nesta 3ª feira no Jornal A União, em extraordinária abordagem sobre momentos diferentes da História brasileira em que ele termina sendo personagem.
São situações distintas – uma em 1960 com seu Pai, então líder do Governo Juscelino Kubitscheck, grande figura de nome Abelardo Jurema, saudando o presidente dos EUA, Eisenhower, em comparação ao encontro entre Lula e Donald Trump no fim-de-semana consolidando a força da Diplomacia.
São tempos diferentes, é verdade, em que as pautas de prioridade têm natureza distinta, mas Abelardo Jurema Filho é certeiro na afirmativa de que sempre a Diplomacia será fundamental entre Nações, sobretudo no nível do Brasil e dos EUA, porque ninguém cresce sozinho.
Vale muito à pena ler a “Aula de História” entre o Rio de Janeiro e João Pessoa. Eis o texto, na íntegra, a seguir:
De Eisenhower a Trump
Eu ainda era menino quando vi, da calçada da velha Cesário Alvim, no Humaitá, o carro conversível que trazia o presidente norte-americano Dwight “Ike” Eisenhower desfilando pelas ruas do Rio de Janeiro. Era fevereiro de 1960, e o Brasil vivia os dias luminosos do governo Juscelino Kubitschek. Brasília ainda cheirava a cimento fresco e o país respirava otimismo, industrialização e fé no futuro.
Naquele tempo, meu pai, Abelardo Jurema, deputado federal e líder da maioria do governo, foi o escolhido para saudar Eisenhower na sessão solene do Congresso Nacional. Recordo o orgulho com que minha mãe se vestiu para acompanhar o evento pelo rádio, e o tom solene com que o nome “Eisenhower” ecoava entre as colunas de mármore do antigo plenário. O discurso de meu pai exaltava a amizade entre as duas nações e destacava a importância de um diálogo franco entre o Norte e o Sul, entre potências e países em desenvolvimento — não como subordinação, mas como coope- ração entre iguais.
Aquela visita simbolizava um tempo em que o Brasil e os Estados Unidos buscavam construir uma parceria estratégica de desenvolvimento e confiança mútua. O mundo, então dividido pela Guerra Fria, assistia à tentativa de Eisenhower e Juscelino de erguer pontes sobre o abismo ideológico que separava o capitalismo e o socialismo. Eram tempos de diplomacia paciente, de gestos simbólicos e palavras que ainda tinham peso.
Mais de seis décadas depois, o cenário repete-se, ainda que em tons mais ruidosos e digitais. Nesse fim de semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente norte-americano Donald Trump protagonizam um encontro que, guardadas as proporções e as diferenças históricas, também carrega o espírito da cooperação mútua entre nações que, apesar das divergências, reconhecem-se interdependentes.
Se em 1960 falava-se em industrialização, energia e infraestrutura, agora o diálogo se volta para temas igualmente vitais: meio ambiente, transição energética, inteligência artificial, defesa da democracia e combate à desigualdade global. Mudaram as pautas, os protagonistas e até o tom das conversas — mas o objetivo permanece: manter viva a ponte entre dois mundos, diferentes na forma, mas unidos pela diplomacia paciente, de gestos simbólicos e palavras que ainda tinham peso necessidade de diálogo e convivência.
O Brasil, outrora visto como promessa exótica do Hemisfério Sul, hoje se impõe como ator estratégico na geopolítica global. E os Estados Unidos, embora ainda potência, percebem que o tempo das imposições cedeu lugar à diplomacia compartilhada.
Lula e Trump, assim como Juscelino e Eisenhower, representam lideran- ças que se movem entre o pragmatismo e a retórica — ambos conscientes de que as nações fortes não se afirmam pela distância, mas pela
capacidade de conversar.
É curioso notar que, em 1960, meu pai exaltava a força da palavra como instrumento de aproximação entre povos. “Nada resiste à boa vontade das nações quando o diálogo se impõe à desconfiança”, dizia ele. Hoje, essa lição soa mais atual do que nunca.
As formas mudaram — do plenário de mármore aos bastidores das redes sociais —, mas a essência é a mesma: o diálogo é, e sempre será, o alicerce da civilização.
A visita de Eisenhower abriu uma janela para a cooperação no século XX. O encontro entre Lula e Trump, com suas contradições e simbolismos, talvez seja a tentativa de reabrir essa janela no século XXI. E, se o passado nos en- sina algo, é que as pontes erguidas pela diplomacia verdadeira resistem às marés do tempo — desde que sejam construídas com respeito, lucidez e a firme crença de que nenhuma nação cresce sozinha.