João Pessoa aparece com vantagem climática em relação a Salvador e ao Rio de Janeiro para a prática do turismo ao longo do ano. É o que mostra um estudo assinado por pesquisadores das universidades de Freiburg (Alemanha), Coimbra (Portugal) e Demócrito da Trácia (Grécia), publicado em 11 de junho de 2025 na revista científica Atmosphere (DOI: 10.3390/atmos16060705).
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A pesquisa analisou dados horários e mensais do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) entre 1º de janeiro de 2014 e 31 de dezembro de 2024, e aplicou dois referenciais biometeorológicos: o PET (Physiological Equivalent Temperature), que aproxima a sensação térmica humana em diferentes condições, e o CTIS (Climate–Tourism/Transfer–Information–Scheme), que “traduz” variáveis do tempo em adequação climática para o turismo (sol, chuva, vento, mormaço, tempestuosidade etc.).
Principais resultados
• Estabilidade térmica: João Pessoa apresenta regime térmico mais estável e com menos extremos do que Salvador e Rio.
• Calor de meio-dia: apesar da estabilidade, o PET fica elevado entre 9h e 15h praticamente o ano inteiro, o que pode gerar desconforto em atividades ao ar livre nessas horas, mesmo sem ondas de calor extremas.
• Chuva concentrada: a capital paraibana tem estação chuvosa bem definida entre abril e julho, com maior frequência de chuvas moderadas a fortes em maio e junho. Muitos desses eventos estão associados a Distúrbios Ondulatórios de Leste (EWDs), que é um sistemas de baixa previsibilidade em curto prazo.
• Adequação turística (CTIS): a estação seca apresenta alta adequação climática; há redução durante a estação chuvosa por causa do aumento da precipitação e da leve queda no conforto térmico.
• Comparativo regional:
o Salvador mantém conforto estável, porém com maior estresse de calor no primeiro semestre.
o Rio de Janeiro é mais sazonal: verão mais quente e úmido; inverno mais ventoso e com aumento de dias “tempestuosos”.
O que isso significa para quem planeja viajar ou gerir o destino
Os autores sugerem estratégias de adaptação climática no turismo local. Entre as recomendações, estão diversificar a oferta além do sol e praia nos meses chuvosos, ajustar horários de passeios ao ar livre e melhorar a comunicação climática em tempo real.
These findings highlight the high climatic suitability of João Pessoa for tourism during the dry season (October to March), while transitional months (April and September) could be strategically promoted for off-peak and niche tourism. Diversifying tourist offerings beyond sun-and-beach activities and improving real-time climate communication can help reduce the impact of weather fluctuations, especially during wetter months.
• Quando ir: a janela mais favorável vai de outubro a março, com pico de adequação em setembro e outubro. O período entre Abril e setembro funcionam como meses de transição que ajudam a descentralizar o fluxo de visitantes.
• Como programar o dia: priorizar atividades externas até 9h e após 15h; no miolo do dia, optar por áreas sombreadas, hidratação e pausas.
• O que fazer na chuva: apostar em museus, centros culturais, gastronomia, roteiros históricos, experiências de natureza arborizada/sombreada e programação indoor — mantendo planos alternativos diante de chuvas de curta antecedência.
• Gestão pública e trade: boletins simples, atualizados, indicando chance de chuva de curto prazo e conforto térmico por faixa horária, além de infraestrutura de sombra e ventilação natural em orlas e atrativos.
Entenda os termos
• PET (Physiological Equivalent Temperature): índice biometeorológico que sintetiza temperatura do ar, umidade, vento e radiação para estimar como o corpo percebe o calor/frio. Em geral, 23–29 °C no PET indicam conforto para caminhadas e passeios urbanos; acima de 35 °C há estresse de calor.
• CTIS (Climate–Tourism/Transfer–Information–Scheme): esquema que classifica, por mês, a adequação do clima para o turismo, combinando conforto térmico, sol, chuva, vento, mormaço e outros fatores. Ajuda a planejar temporadas, eventos e roteiros.
Ambos os indices são amplamente reconhecidos mundialmente e tiveram o Prof. Andreas Matzarakis (um dos coautores) na equipe de elaboração.
Metodologia em poucas linhas
O estudo utilizou estações oficiais do INMET/BDMEP (A320 — João Pessoa; A401 — Salvador; A652 — Rio de Janeiro). As séries foram submetidas a controle de qualidade, e o PET foi calculado com o modelo RayMan. O CTIS foi aplicado de forma padronizada para permitir comparação internacional. O período de 11 anos (2014–2024) é suficiente para capturar sazonalidade e variabilidade interanual relevantes ao planejamento do turismo.
Por que importa
Com o crescimento do turismo em João Pessoa e a pressão sobre infraestrutura urbana e natural, entender janelas climáticas e pontos de atenção (chuvas de baixa previsibilidade e calor do meio-dia) é decisivo para qualificar a experiência do visitante, reduzir cancelamentos e distribuir melhor o fluxo ao longo do ano e do dia. O trabalho também reforça a importância de adaptações simples e baratas — de comunicação e de manejo de horários — que geram ganhos imediatos para turistas e moradores.
Referência:
Badiru, A.; Humaire, L.; Matzarakis, A. Climate and Sustainable Tourism in João Pessoa: A Comparative Study with Salvador and Rio de Janeiro, Brazil. Atmosphere, 16(6), 705. Publicado em 11/06/2025. DOI: 10.3390/atmos16060705.
Período analisado: 2014–2024 | Fontes: INMET/BDMEP | Indicadores: PET, CTIS, precipitação.
Financiamento: CNPq (proc. 200151/2025-8) e Alexander von Humboldt Foundation.
