Quando a festa virou tragédia: O naufrágio da Lagoa na comemoração do Dia do Soldado em 1975

Esta é a data em que toda a população se recorda da fatídica tarde em que 35 pessoas morreram nas águas da lagoa do Parque Solón de Lucena, 29 das quais foram crianças.

No dia 24 de agosto é comemorado o Dia do Soldado, data que homenageia os praças e oficiais do Exército Brasileiro, data festiva em todo o Brasil, mas em João Pessoa há um olhar diferente acerca deste marco no calendário. Na Capital paraibana esta é a data em que toda a população se recorda da fatídica tarde em 1975 em que 35 pessoas morreram nas águas da lagoa do Parque Solón de Lucena, 29 das quais foram crianças.

As mortes foram causadas pelo naufrágio de uma Portada M-2, pequena embarcação do exército que fazia passeios pelas águas do corpo d’água como parte de uma ação de promoção planejada pelos militares que incluía a exposição de armas, canhões, viaturas, carros de combate, armadilhas de caça e pesca e galeria de fotos.

O naufrágio

No fim da tarde daquele dia a embarcação iniciou o que seria a última viagem da festividade. A portada tinha capacidade para 60 pessoas, mas haviam 200 na barca. Reconhecidamente o naufrágio foi ocasionado pela superlotação.

“De longe não era possível ver sequer o lastro da embarcação, devido ao grande número de ocupantes da barca. Quando a embarcação já se encontrava em local mais profundo, as pessoas que estavam em terra começaram a se preocupar porque observaram que o banco estava desaparecendo. Ouvíamos apelos e gritos vindos do barco”, afirmou o jornalista e escritor Gilvan de Brito em entrevista concedida ao Portal Correio.

Assustadas à medida que a embarcação começou a afundar, as pessoas que estavam na parte anterior do veículo começaram a passar para a parte traseira, que ainda estava seca, mas o excesso de pessoas num mesmo local fez com que a portada afundasse definitivamente.

Não havia boias e nenhum dos passageiros da portada vestia colete salva-vidas. Dentre os passageiros, poucos também sabiam nadar, o que também colaborou com o alto número de vítimas do acidente.

“Nesse dia, a Lagoa, nosso cartão postal, foi palco de uma das maiores tragédias da cidade. Muita gente morreu, a maioria crianças”, recorda Amélia da Cruz Fonseca, hoje diretora da 16ª Vara da Justiça Federal e uma das sobreviventes do naufrágio em relato compartilhado pela Justiça Federal da Paraíba.

Chegada dos bombeiros

O Corpo de Bombeiros chegou ao local alertado por um radialista que testemunhou a tragédia acontecendo e correu para a rádio para convocar os populares a ajudarem e assim os resgates tivessem início, ainda que de corpos e não mais de sobreviventes.

Com redes de pesca os cadáveres foram recolhidos das águas da Lagoa dos Irerês, como o corpo d’água era chamado até a construção do parque ao seu redor. O resgate dos corpos levou mais de 24 horas, um dos fatores para a extensão das buscas é que não se sabia quantas pessoas estavam na balsa no momento do acidente e nem quantos teriam morrido no desastre.

Idenizações

Em 1977, dois anos após o acidente, as primeira ações idenizatórias foram ajuizadas e buscavam a idenização por danos materiais e morais, indicando que a União sseria responsável pelo acidente.

“Em pleno regime de exceção democrática, as autoridades da Guarnição Militar de João Pessoa portaram-se respeitosamente com a Justiça Federal. Foi muito bom que tenha sido assim. Tive paz para exercer o meu trabalho”, como recordou o desembargador do Tribunal Regional Federal da 5ª Região e há época juiz federal, Ridalvo Costa, em seu livro de memórias.

Memória

A tragédia se eternizou como um dos principais fatos históricos de João Pessoa. A morte das 35 pessoas já foi tema de documentário produzido pela TV Assembleia da Paraíba, que traz o relato de sobreviventes do acidente e de parentes de algumas das vítimas que perderam suas vidas no naufrágio da portada.

 

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