Economia

Dependência das exportações brasileiras aos EUA expõe setores às tarifas de Trump

Relatório da FGV mostra que 18 dos 30 produtos mais vendidos ao mercado norte-americano enfrentam sobretaxas e risco para cadeias produtivas.


15/08/2025

Foto: Reprodução

Lara Ribeiro

Dez dos 30 principais produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos concentram 80% ou mais de suas vendas externas nesse único mercado. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (13) pelo Ibre da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Indicador de Comércio Exterior (Icomex) de agosto.

A elevada dependência preocupa especialistas diante das recentes tensões comerciais e da imposição de tarifas pelo governo norte-americano.

Ferro fundido, semimanufaturados de aço, madeira de coníferas, portas, soleiras, pedras de cantaria e aviões estão entre os itens com maior dependência. A madeira de coníferas lidera o ranking, com 98% das vendas externas destinadas aos EUA, US$ 189 milhões até julho.

Na região Sul, onde se concentram polos industriais de móveis e madeira, empresas como a catarinense Millpar já adotaram medidas como férias coletivas para lidar com o aumento tarifário.

As sobretaxas impostas pelo governo de Donald Trump atingem produtos fortemente dependentes do mercado norte-americano e podem desestabilizar cadeias produtivas específicas, mesmo que o impacto macroeconômico seja limitado.
Segundo a professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Icomex, Lias Valls, substituir esse mercado será um processo lento, especialmente para bens industriais e siderúrgicos, cuja produção está integrada a multinacionais.

Apesar da alta dependência, três dos produtos mais afetados pelas tarifas, como aviões de 2 a 15 toneladas, com 91% das exportações destinadas aos EUA, ficaram fora das exceções previstas no decreto. A Embraer, líder nacional em jatos regionais, concentra essas operações.

Outros exemplos são o sebo bovino (97,3%) e produtos semimanufaturados de aço (96,1%). Ao todo, 18 dos 30 itens mais vendidos aos EUA enfrentam sobretaxas, afetando empresas e empregos.

Especialistas destacam que a concentração em um único mercado dificulta a adaptação às mudanças no comércio internacional. Além das barreiras logísticas e comerciais, há questões políticas: membros do governo Lula apontam que, embora o Brasil pratique tarifas de importação similares às da Argentina e do Paraguai, esses países não recebem o mesmo tratamento por parte de Trump, revelando impasses na relação bilateral.

O panorama de alta dependência mostra a necessidade de estratégias brasileiras para diversificação de mercados, com intuito de reduzir vulnerabilidades diante das tarifas. Porém, a forte inserção de diversas indústrias nas cadeias globais de produção indica que mudanças exigirão tempo.

Embora os impactos na economia como um todo sejam moderados, setores como o siderúrgico e de manufaturados podem enfrentar perdas mais significativas.



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