Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Os Festivais da MPB na Paraiba


07/06/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Em abril de 1967 a Paraíba se integrava à efervescência do movimento cultural que renovou a Música Popular Brasileira. O sentimento de insatisfação que dominava a consciência política dos jovens, artistas e intelectuais do nosso país, estimulava o espírito criativo para, através das canções, fazer ecoar o grito de protesto do povo. Era a fórmula encontrada para vencer a censura e a repressão da ditadura militar. Os Festivais da MPB criavam uma dinâmica nova na produção artística nacional, revelando compositores e cantores que conquistavam a simpatia de uma geração que já demonstrava o seu ajustamento ao tempo de mudanças que o mundo inteiro clamava.

Esses certames levavam emoção e entusiasmo ao público que comparecia aos eventos. Na sua maioria formada por estudantes, intelectuais e jornalistas, esse público dava voz à rebeldia popular que, a todo custo, os ditadores tentavam conter. Nas letras que aparentemente tratavam de temas românticos, percebia-se subliminarmente as mensagens de cunho social ou político.

Participei, com a excitação própria da idade, desses acontecimentos, tanto a nível nacional acompanhando a transmissão pela TV, quanto comparecendo às eliminatórias das edições dos festivais realizados no Teatro Santa Roza. Vibrava, torcia, cantava, aplaudindo ou vaiando a apresentação das músicas concorrentes, me incorporando à energia revolucionária que dava ânimo para a luta contra o regime e inspiração para a produção de um dos mais férteis momentos da história da música brasileira.

Os Festivais da MPB na Paraíba nasceram da iniciativa de integrantes da Sociedade Cultural de João Pessoa, que assumiu a responsabilidade de atuar como promotora dos eventos. Seus idealizadores foram Expedito Pedro Gomes, coordenador dos quatro primeiros festivais, o maestro Pedro Santos, o cronista de artes G. O. Belli, Carlos Roberto de Oliveira e Alarico Correia Neto.

Alcançaram grande sucesso. O Teatro Santa Roza tornou-se pequeno para o grande público interessado. Quem não conseguia se fazer presente acompanhava pela transmissão feita pelas três emissoras de rádio da Capital: Tabajara, Arapuan e Correio da Paraiba.

Nas cinco edições realizadas despontaram compositores como Marcus Vinicius, Livardo Alves, Carlos Aranha, Vital Farias, Glorinha Gadelha, Luiz Ramalho, Genival Veloso, Gilson Reis, Kátia de França, Alberto Arcela, Cleodato Porto, Sergio de Castro, Pedro Osmar, etc. Revelaram intérpretes como Shirley Maria, Zé Pequeno, Aléssio Toni, Diógenes Brayner, entre outros.

Algumas músicas ficaram na minha memória: Poeira, de Marcos Vinicius; Eu Sabia Sabiá, de Vital Farias; Giramulher, de Carlos Aranha; Mundo da Gente, de Glorinha Gadelha; Mariana, de Kátiia de França; O Repente, de Bráulio Bronzeado; Caminhando Caminhar, de Gilson Reis.

A Paraiba conseguiu mostrar seu potencial artístico na música, onde sempre se apresentou com um grande celeiro de talentos, muitos deles ganhando destaque no cenário nacional. Sentia-me orgulhoso em constatar isso a cada edição do Festival da MPB que aqui se realizava.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”

 

 

 


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