Cultura
O velho professor
08/09/2023
Já não lembrava mais dele, mas sempre soube que era uma lenda na resistência cultural desse país e exemplo de luta por uma melhor condição de vida para a classe trabalhadora.
Era irmão de Icleia, uma amiga da minha mãe que ia lá em casa, como José Ernesto e tantos outros, para escutar a opinião de Dona Cora e saborear fatias douradas de bolo de rolo com café fresco.
Já tinha cruzado com ele no Colégio Estadual do Roger e o via sempre com Washington Rocha, Toinho Help e Biu, que era o presidente do Grêmio Estudantil mais atuante do Estado. Até mesmo que o do Liceu, que era tradição na época.
Era um grupo aguerrido que bebia na fonte de outras juventudes, notadamente da francesa, e delas incorporava elementos que flertavam com o romântico e heróico da revolução em si.
Pude entender isso melhor, anos mais tarde, quando li “As travessuras da menina má” do sempre genial Mário Vargas Llosa. No livro, um homem tenta manter um relacionamento com uma mulher, que ele encontra em manifestações ao redor do mundo.
Era a mesma menina má que eu via nas noites de vigília, na casa de Marcos Paiva, quando nos reuníamos para pintar as faixas e cartazes da passeata do dia seguinte.
Meio fada e meio bruxa, era ao mesmo tempo Catherine Deneuve e Anita Garibaldi, Maria Bonita e Leila Diniz, dando um toque de beleza a um exército de uma guerra de irmãos.
Pois bem, Irlânio Pereira, a lenda a quem me referi no início desse texto, era um desses irmãos. Acho que morava no bairro do Cordão Encarnado, mas com certeza gostava dos Beatles e Rolling Stones, porque lembro de ter encontrado com ele numa sessão de “A hard day’s night” no cine Municipal.
Infelizmente, por uma dessas voltas que o mundo dá, perdi de vista a maioria desse grupo e só bem mais tarde vim saber de algumas das histórias deles através de Waldir Porfirio.
Mas, nada relacionado ao professor Irlânio, cuja foto atual foi postada recentemente numa nota de falecimento em todas as mídias sociais.
Não o reconheci na foto depois de tantos anos, mas não tenho dúvidas que ele contribuiu decisivamente para a construção de um Brasil melhor e mais independente.
O lugar que a menina má teria escolhido, depois de muitos anos de luta, para viver, amar e ser feliz.
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