Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O tumulto na inauguração do Almeidão


21/08/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Ao encerrar o seu mandato de governador, Ernani Sátiro inaugurou os estádios que construiu em João Pessoa e Campina Grande. Foram entregues ainda sem nomes oficiais, por isso receberam do povo, em princípio, os apelidos de “Satirão”, o da Capital, e “Amigão”, o de Campina Grande. Só em maio é que foram denominados de José Américo de Almeida Filho, passando a ser chamado de “Almeidão”, e Governador Ernani Sátiro, respectivamente.

O Botafogo do Rio foi o time convidado para enfrentar os paraibanos nas partidas de inauguração, realizadas nos dias sete e nove de março. No “Amigão” o Campinense empatou em zero a zero com a equipe carioca. Enquanto que em João Pessoa o “Belo” perdeu de dois a zero. Como não havia ainda refletores os jogos aconteceram no período da tarde. A iluminação dos campos só foi inaugurada meses depois.

A festa esportiva no “Almeidão” foi marcada por um clima de tensão, em razão de advertências que teriam sido feitas durante toda a semana pelo deputado Rui Gouveia, de que o estádio não oferecia segurança para acolher um grande público e poderia acontecer uma tragédia. Mesmo assim, os dois lances de arquibancadas ficaram totalmente tomados pelos torcedores, calculando-se em torno de trinta mil expectadores.

Ao final do primeiro tempo uma bomba que explodiu na área que hoje chamamos de “arquibancada sol” foi o suficiente para provocar um tumulto generalizado. O barulho das pessoas correndo apavoradas, dava a impressão de que o estádio estava ruindo. Na “arquibancada sombra”, onde me encontrava, o público também se atemorizou, estabelecendo idêntica agitação. Realmente foi algo estarrecedor. Sem compreender bem o que estava acontecendo, todo mundo procurava a saída ao mesmo tempo, com as pessoas atropelando umas as outras. Cerca de trinta torcedores foram transportados para o Hospital do Pronto Socorro para receberem atendimento médico.

A tranqüilidade só aconteceu quando o próprio governador ocupou os microfones das emissoras de rádio para anunciar que tudo estava dentro da normalidade e que não havia qualquer motivo para aquele alvoroço, atribuindo, inclusive, o fato ao efeito psicológico do terrorismo praticado pelo parlamentar nos dias que antecederam a inauguração.

Passado o susto, o público voltou a fazer festa e a partida foi reiniciada sem qualquer outra ocorrência que pudesse tirar o brilho do espetáculo futebolístico e a alegria do pessoense em receber finalmente um estádio que propiciaria a realização de bons jogos e estimularia o crescimento do nosso futebol.

• Integra a série de textos ‘INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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