Até os primeiros anos da década de setenta convivíamos ainda com vários tabus em relação à vida sexual. Os namoros escondidos eram objeto de censura social. A prática da sexualidade, culturalmente admitida com maior liberalidade para o homem, se restringia à freqüência aos prostíbulos. O conceito machista que predominava até então fazia com que muitos pais estimulassem a iniciação dos seus filhos na sexualidade, levando-os ao meretrício.

Nesse período a sociedade transformava-se, quebrando paradigmas e vencendo preconceitos. Os valores passaram a ser compreendidos de forma diferente de antigamente. A censura sexual diminuía. O movimento feminista permitiu que a mulher alcançasse maior liberalidade no tratamento dessa questão. Os encontros amorosos reservados perderam seu sentido radical de desregramento moral.

João Pessoa buscava acompanhar esse avanço cultural que o país inteiro experimentava. Foi então que começaram a surgir os motéis, que no Brasil têm características próprias, afirmando-se como locais a serem utilizados para os casais se encontrarem com segurança, na garantia do sigilo e desfrutando do conforto de um hotel.

Os primeiros foram o Fogeama, Pigalle e Trevo. Claro que inicialmente eram estigmatizados, vistos como ambientes que incentivavam os “pecados da carne”. No passar do tempo, essa visão de algo indigno e desonroso foi mudando. Já não existe hoje esse olhar crítico em relação à freqüência dos motéis, sendo procurados inclusive por pessoas casadas, atraídas pela curiosidade e mistério que envolvem esses ambientes, buscando fugir da rotina e dando vazão ao atendimento de fantasias.

Outro fator de sucesso dos motéis é a segurança que proporciona aos seus usuários, evitando que os casais namorem nos carros ou em lugares escuros, o que se tornou extremamente perigoso em razão da violência urbana.

Portanto, nos anos setenta nossa Capital se inseria no contexto nacional da modernidade. De lá pra cá, foram muitas as novidades surgidas nesse tipo de estabelecimento, sempre ofertando atrativos que ajudam a desaparecer as restrições antes impostas por uma sociedade conservadora e preconceituosa.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.