Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Sociedade

O analfabeto político funcional


10/06/2025

A conflagração político-ideológica que se acentuou nos últimos anos no Brasil jogou muita gente ao nível do analfabetismo político funcional, onde as discussões e os debates passaram a ser exercidos a partir de ideias soltas, afirmações rasteiras, manifestações preconceituosas e frases feitas, numa regressão que beira a irracionalidade. Isso tem apresentado consequências negativas para a democracia, a justiça social e o desenvolvimento do país, contribuindo para a desinformação, a polarização e o enfraquecimento da participação cívica.

A ignorância colabora para a falta de consciência política, desestimulando o interesse em partilhar interesses comuns, abraçando discursos incitadores de ódio e de intolerância. O analfabeto político está presente, também, no mundo acadêmico, na imprensa, nas igrejas e na alta sociedade. Ele se posiciona numa zona de conforto, na acomodação, sem a preocupação em ter consciência política. Tanto que, geralmente, vive proclamando que odeia política. Vítima de lavagem cerebral, tem um comportamento de negligência quanto ao conhecimento da situação política do país. Comportando-se como um alienado, confirma a definição de Aristóteles, quando diz: “O indivíduo isolado torna-se insociável e apolítico, comportando-se ‘como um deus ou uma besta’”.

Há um poema de Brecht que diz: “O pior analfabeto é o analfabeto político: não sabe, o imbecil, que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior dos bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais ou multinacionais”. Torna-se, então, um instrumento fácil de ser moldado de acordo com os padrões e dinâmicas políticas impostas, votando somente em quem lhe traga benefícios assistencialistas, na expectativa de obter benesses concedidas pelo poder. Por ter uma visão equivocada da realidade em que vive, prefere tornar-se um agente passivo no processo democrático.

A mídia exerce forte influência na vida dessas pessoas, quando busca moldar a opinião pública, divulgando informações que atendem à ideologia e à bagagem cultural do receptor. Alcançadas pela manipulação midiática, resistem em perceber que o conteúdo da informação recebida foi tratado de acordo com pautas selecionadas para atingir exatamente esse público que integra a bolha ideológica.

Enquanto os analfabetos políticos forem uma força de expressão na nossa sociedade, teremos dificuldade em construir uma nação verdadeiramente soberana, porque esses costumam se dobrar a interesses estrangeiros, ainda que se afirmem “patriotas”. São guiados como cegos, conforme a opinião do grupo a que estejam inseridos na vida cotidiana. Não está sendo fácil nos livrarmos desses parasitas da nossa sociedade. Não conseguem participar de diálogos construtivos, porque nunca aceitam o contraditório.

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