Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

Era só o que faltava…


04/01/2025

Houve um tempo em que a disputa para o cargo máximo do Executivo Federal, a presidência da República, exigia que os postulantes fossem lideranças políticas que possuíssem atributos que garantissem comportamento de estadista. O candidato precisava ser alguém experiente na gestão pública ou no trato de questões políticas, capaz de atuar com responsabilidade no exercício da governança brasileira, apresentando, portanto, um conjunto de competências, qualidades e atitudes ético-morais.

Lamentavelmente a democracia liberal está transformando a política num espaço em que as eleições não são levadas a sério. Basta ver as figuras que têm alcançado grandes votações, tanto para cargos executivos, quanto para os parlamentos. São promovidos pela “elite do atraso”, como bem definiu Jessé Souza. Democratas apenas nos discursos, como podemos constatar nos anos recentes, quando o Brasil esteve à beira do abismo, com a tentativa de um golpe de Estado e vimos como adoram o autoritarismo.

Vivemos experiências desastrosas com eleições de personagens exóticos, oportunistas, destrambelhados e desqualificados para o mais alto cargo da Nação. Estivemos submetidos a políticos que se apresentavam como as “grandes novidades” e se revelaram grandes decepções, como Jânio Quadros, Collor e Bolsonaro. O fenômeno de ascensão de outsiders no cenário nacional resulta de uma campanha articulada para promover o descrédito da classe política, fazendo com que pessoas que se destacam no campo do entretenimento e do empreendorismo se disponham a disputar eleições. Esses agentes que atuam no palco midiático, conseguem ter mais facilidade em influenciar a opinião pública, transformando a política num espetáculo, deprimente diga-se de passagem.

Eu imaginava que tínhamos alcançado o estágio mais degradante dessa forma de fazer política. Errei. Agora o país toma conhecimento de que um cantor sertanejo, de nome artístico Gusttavo Lima (seu nome de registro é Nivaldo Batista de Lima), anuncia oficialmente que vai concorrer às eleições presidenciais de 2026. Nem partido político tem ainda, que é uma das exigências para que possa oficialmente ser candidato. O que demonstra não ter convicções programáticas, pois está à caça de uma legenda, seja ela qual for. Mas, com certeza, será no campo da extrema direita, que gosta de promover essas aventuras.

Até porque nas suas primeiras mensagens como pretenso candidato, já se afirma representar o agronegócio, declarando, inclusive, que vai trabalhar para que essa atividade econômica pague menos impostos, Espera que a população esqueça que ele esteve recentemente envolvido num escândalo de grande repercussão na mídia, por suspeita de lavagem de dinheiro em empresas de apostas on-line, conforme denúncia do Ministério Público de Pernambuco. Será que isso ainda tem importância num pleito eleitoral?

Vamos “engolir” mais essa? O que me assusta é o fato de que nas últimas décadas isso está sendo normalizado. O eleitorado tem feito opção por votar nessas personalidades excêntricas. Estamos perdendo a capacidade de fazer as escolhas ditadas por uma consciência crítica e responsável, elegendo os que são indicados pela elite brasileira, alinhados a um projeto de dominação ideológica da extrema direita. Eles são apenas “paus mandados”. Na verdade, se dobram à vontade dos poderosos que propiciaram a oportunidade de se tornarem políticos.

Preocupante ver que estamos presenciando um momento histórico onde as aparências e imagens públicas dos indivíduos são mais importantes do que as suas essências morais e culturais. É o estágio em que o capitalismo faz valer a exploração psicológica para moldar hábitos, percepções e sentimentos. Aí prepondera a fascinio, muitas das vezes quase cego, a pessoas e não a ideias.

Tomara que essa afirmação dele seja só mais um susto que quer nos impor. Porque, do contrário, chegamos, realmente, ao “fundo do poço”. Mas é o.momento se dar um impulso e resgatarmos definitivamente nossa democracia.


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.