Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Eis que nasce o Risco Trump


11/11/2016

Foto: autor desconhecido.

A eleição de Donald Trump à presidência dos EUA não é fim do mundo. Mas é o início de uma nova fase da vida socioeconômica e política desse país marcada pelo conservadorismo, economicismo e nacionalismo. Quase a metade dos eleitores aprovou o lema básico do novo presidente: “Os Estados Unidos acima de tudo e a América para os americanos”.

No plano interno, o governo Trump tende a ser retrógrado, em relação aos avanços antirracismo, direitos das mulheres e minorias e às políticas de benefícios e subsídios aos mais pobres. A política econômica será mais pró-empresas e o sistema tributário mais regressivo, com menores incidências proporcionais sobre os mais ricos.

A expectativa é que a economia norte-americana volte a crescer a 4% ao ano, ao ser estimulada a operar pelas regras do livre mercado. Nos últimos oito anos essa taxa girou em torno de 2%, mas proporcionou a saída crise e uma forte queda do desemprego. A grande classe média não teve o que comemorar, pois os seus empregos passaram a ser de menor qualidade, remuneração insuficiente e alta rotatividade.

Essa classe media absorveu o ideário de Trump como solução para seus problemas e dele se tornou a grande caixa de ressonância, divulgação e criação de opinião favorável. As pessoas desse segmento social entendem que serão beneficiárias do novo modelo econômico, que aumentará ainda mais as já muito altas desigualdade social e concentração da riqueza e da renda dos EUA.

O pior é que há algo mais poderoso por trás dessa virada dos EUA à extrema direita: uma reação segregacionista à inclusão social, sobretudo dos negros, latinos e minorias estrangeiras; o capital financeiro na busca de alternativa para sair de uma década de taxa real de juro negativa; a mídia partidária de Trump e o apoio da mídia noticiosa. E o que dizer do FBI, que anunciou um novo processo contra a candidata Hillary Clinton, no final da campanha e, após os danos causados, desistiu da idéia?

No plano externo, o governo Trump tem compromissos com uma política protecionista. Pretende corrigir o que seria a integração passiva e generosa dos EUA à globalização econômica, que leva capital, tecnologia e capacidade empresarial para gerar emprego e renda em outros países. Isso faz o mundo tremer de medo. O que será das demais economias nacionais, em geral muito menores, se os EUA exercerem mais domínio econômico-financeiro do que o altíssimo que têm no contexto mundial?

Os EUA são o grande país símbolo e líder do capitalismo, o que lhe rende bônus e ônus. Portanto, não podem cometer o absurdo de aumentar os atuais gigantescos níveis de risco e incerteza que travam a economia mundial. Até porque isso seria trabalhar contra si próprio, como herdeiros maiores das turbulências econômicas e financeiras

O capitalismo pós-crise de 2008 continua em transe e sem perspectiva de um futuro melhor. O novo capitalismo que se faz necessário, principalmente nos EUA, ainda não saiu das entranhas do atual. Pelo que tem dito e se propõe a fazer, não se pode esperar que o presidente Donald Trump faça isso acontecer.
 


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