Crônica de um impeachment anunciado

Na campanha da eleição presidencial de 2014 emergiu uma força muito forte contra um quarto governo do PT. As ações se apoiaram no grande capital financeiro, industrial e agropecuário associado ao comando ideológico da mídia nacional e de intelectuais e grupos políticos de direita. A ideia básica implícita era que essa alternância de poder deveria se dar pelo voto, para evitar os ônus e riscos posteriores de soluções atípicas.

Dilma Rousseff foi reeleita. De imediato, começou a luta pela sua destituição. As ações no TST para cassar o seu mandato, até agora, não tiveram êxito. A recomendação do TCU ao Congresso contra as contas do governo de 2014 não foi apreciada. A tentativa de jogar a presidente no esgoto da Lava Jato nada comprovou. Portanto, ela não cometeu crimes de roubo, recebimento de propina, improbidade administrativa ou quebra de decoro, à luz da Constituição e da Lei do Impeachment.

Outra insanidade política para derrubar a presidente é a inviabilização do governo. Não adiantou o fato de o ajuste fiscal ser o mesmo que as oposições defendiam. No Congresso, as oposições aliadas ao presidente da Câmara e à parte do PMDB que quer Temer na presidência da República não aprovaram as condições para o superavit orçamentário da União. Ao contrário, aprovaram uma “pauta-bomba” com aumentos de despesas que destruiriam as finanças públicas, sem o veto presidencial.

Essa busca do poder por vias tortas está empurrando o Brasil para um desastre político, econômico e social de consequências tenebrosas. A inviabilização do governo aumentou a sua impopularidade, mas criou a atual crise econômica rumo à depressão. O impeachment não pode ser um terceiro turno eleitoral para nomear um novo presidente. Isso afronta a democracia com danos irreparáveis às instituições da República. Fora da Constituição e da legalidade floresce o autoritarismo e tudo passa a ser possível.

Dois personagens apelam aos deuses das causas impossíveis, para ser presidente do país: Michel Temer e Aécio Neves. Provavelmente, o acordão já foi fechado. Temer ficaria até 2018, com reeleição proibida, até porque, nesse acerto, seria obrigado a adotar políticas ultraconservadoras e antipopulares com alto desemprego e redução dos salários e benefícios sociais. Os principais ministérios do governo seriam do PSDB, DEM e PPS. O PMDB teria menos poder do que tem hoje. Após essa truculência, Aécio surgiria como o salvador da Pátria.

Aécio Neves botou na cabeça que, por ser neto de Tancredo Neves, é predestinado a governar a Nação. Derrotado pelos votos dos mineiros e do povo brasileiro, tudo tem feito por esse devaneio. Apelou para o tapetão do TST e juntou-se ao virtuoso presidente da Câmara Eduardo Cunha contra a presidente Dilma. Agora usa o impeachment como moeda de troca de sua eleição em 2018, de preferência sem adversários. Seu maior desejo é a supressão dos direitos políticos do ex-presidente Lula.

Se não fosse a guerra política pela tomada do poder a qualquer custo, o ajuste fiscal e desinflacionário Dilma-Levy teria sido aprovado pelo Congresso e avançado muito. A economia brasileira teria voltado a crescer em setembro. A oposição impediu a realização desse feito alvissareiro. O governo Dilma não pode dar certo! Esse é o raciocínio danoso dos querem derrubar a presidente, mesmo que o país afunde junto.

Aécio Neves e o PSDB perderam a eleição presidencial por incompetência. Mirem-se nos casos da Argentina e Venezuela; na primeira a oposição elegeu o presidente da república e na segunda conquistou o poder legislativo. Nesses países, um tanto mais na Venezuela, o espaço de exercício das liberdades individuais, de imprensa e expressão política é muito inferior ao nosso. O êxito dessas oposições deve-se a luta com base na democracia, na Constituição e na legalidade. No Brasil, a oposição quer o poder, mas pisando sobre esses valores e, o pior, sem eleição e sem votos.


 

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