Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Música

Coração de estudante


27/08/2023

Foto: Marcos Hermes/Divulgação.

 

 

Infelizmente, eu não estava lá. Mas, o que chegou para mim em vídeos postados no Instagram, revela um artista em plena forma aos oitenta e dois anos, cantando e dançando com um vigor invejável.

A última lembrança que eu guardo dele ao vivo, remete a muitos anos atrás no palco da Domus Hall, interpretando uma das minhas canções preferidas, Tango pra Tereza, da dupla Evaldo Gouveia e Jair Amorim.

E a primeira vez que assisti a um de seus shows, foi no início dos anos setenta, quando ainda integrava o grupo Secos e Molhados que acabara de lançar o seu primeiro LP.

O fato é que Ney Matogrosso, cantando tango ou forró, é quase uma unanimidade no palco e fora dele, mas ele não é o único a continuar na ativa numa idade em que até um dia desses ninguém chegava lá.

Pra falar a verdade quase todos estão nesse barco, remando contra a maré do destino.

Roberto, com seu calhambeque e sem Erasmo, é o mais famoso deles.

Ele, como poucos, sabe que é preciso saber viver. A vida de Piaf e de Adamo. De Greg Lake e de Chico Buarque.

Com isso, o retiro virou recreio, e o pijama virou peça de museu.

O importante é mesmo que a emoção sobreviva.

Vi essa emoção bem de perto no Tancredance, em pleno Circo Voador no bairro da Lapa.

Tinha gente de todas as idades e de todos os lugares, querendo conhecer a tal da vida nova da democracia.

A festa da vida, terrena e eterna. Eterna enquanto dure.

Assim, ninguém sai mais de cena. Nem abandona o palco. Do mesmo modo que o capitão não abandona o seu barco. A sua missão.

Recentemente assisti o show dos Titãs, que flerta com essa força que leva a cantar, mas o grupo paulista ainda tem muita estrada pela frente.

O bom de tudo é que se viva muito, para não ir tão cedo e terminar fazendo falta.

Deixe, portanto, que eles desafinem e que esqueçam das letras. E até mesmo que falte a voz.

Os registros estão aí para isso mesmo.

E vamos lotar os teatros, como aconteceu com Ney no teatro Pedra do Reino. Reconhecer e festejar em vida, cantar com eles e até mesmo tirar o pé do chão.

Mesmo que deixe um lugarzinho no coração para a gente nova que não para de surpreender. Até mesmo porque, no final das contas o coração continua sendo o de estudante.

Mesmo você sendo um homem com H.


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