Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Arte e Cultura


16/06/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Não existe consciência política sem que haja um envolvimento com as questões que digam respeito ao exercício da cidadania. A minha geração viveu um período difícil da nossa história, em que se fazia necessário que cada um de nós estivesse antenado com os acontecimentos, agregando conhecimentos e informações que pudessem contribuir para alcançar uma visão crítica da realidade, e, por conseqüência, firmar posições que determinassem sua função social.

Uma juventude alienada não se dispõe a exigir direitos, nem consegue estabelecer seus deveres, enquanto cidadãos. Por isso, se torna tão importante ler, ouvir experiências, questionar conceitos, debater idéias, se informar, adquirir conhecimentos que facilitem melhor compreender o mundo em que vive. A sabedoria é resultado de aprendizado, de convivência com os que têm cultura a nos transmitir.

No ano de 1968 me foi dada a responsabilidade de ocupar o cargo de diretor de arte e cultura do Grêmio Daura Santiago Rangel, no Liceu. Procurei desenvolver o encargo com esse entendimento. Era preciso oferecer aos companheiros de colégio as oportunidades para se inserirem no universo dos saberes, buscando, cada vez mais, a percepção clara do que estivesse acontecendo ao seu redor.

No primeiro semestre de 1968 realizamos a I Semana de Arte e Cultura do Liceu Paraibano, com uma agenda de eventos em que aconteciam palestras, debates, exposições, concursos literários, shows artísticos. Além de estimular o processo de aprendizado, formando a capacidade de tirocínio, despertava talentos e vocações para as artes e a literatura.

Durante uma semana inteira trouxemos ao auditório do colégio nomes como o do Arcebispo Dom José Maria Pires, que falou sobre o tema “A Igreja e o Desenvolvimento dos Povos”; João Dantas Filho, dissertando sobre “A Atualidade em face do Progresso e da Ciência”; Jomard Souto, tratando das “Consciências Tropicalistas”; José Rafael de Menezes, promovendo o “Diálogo com a Juventude”, e o sociólogo pernambucano Pessoa de Moraes, pronunciando conferência sobre “As atuais transformações do Nordeste”. Como se vê era de excelência o nível dos palestrantes e pertinentes com a época as matérias postas em discussão.

O concurso de poesias que se realizou naquele ano contou com a participação de mais de cem poemas inscritos. Teve como vencedor o estudante Petrônio Souto, com o poema “Homem-Soldado”, e, em segundo lugar, o aluno Michelângelo Bianco, com o poema “Hai-Kais”.

Contando com o apoio do conterrâneo José Rafael de Menezes, criamos o Banco de Livros, que tinha o objetivo de ceder. por empréstimo, livros aos estudantes, tanto os didáticos, quanto edições da literatura.

Foi para mim uma participação gratificante na história cultural da mais tradicional e respeitada escola da Paraiba. Guardo com imensa alegria as lembranças desse tempo, extremamente enriquecedor na formação da minha personalidade.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO I


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