Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Música

A parada do sucesso


23/09/2023

Um dia desses, estava com Lauriston na avenida Rui Carneiro, e resolvemos entrar em Oliver para saber o que havia de novo – não tão novo assim – em discos de vinil.

A loja é uma festa para os olhos e um descanso para os ouvidos, e um esforço hercúleo de resistir num mercado que já teve seus dias de glória, e costumava atrair centenas de aficcionados que disputavam discos de seus ídolos com um afã que o tempo levou.

Era o disco então um objeto de desejo e sua audição um prazer sem limites. Tinha de tudo para todos os gostos. De Reginaldo Rossi para a mesa de bar a Roberto Carlos para a mesa da sala de estar, o terraço e a calçada das amplas casas de então.

E havia também o pop e o rock, e a mpb de Tom Jobim e dos tropicalistas que se somavam aos sambistas, os cancioneiros e ainda as orquestras como Perez Prado e Ray Conniff que não deixavam ninguém ficar parado nas pistas de dança.

E o melhor de tudo é que havia um lugar onde era possível se comprar discos de todos esses gêneros, e ainda por cima escutar antes de formalizar a compra.

E isso no início dos anos 70, quando a cidade ainda gravitava em torno do seu centro e a juventude se dividia entre os protestos de rua e a aceitação da música americana de Bob Dylan, Joan Baez e Simon and Garfunkel.

O nome do lugar, ou melhor, da loja, era sugestivo e o slogan mais ainda. Stop, a parada do sucesso e levava a assinatura dos irmãos Carlos Roberto e Roberto Carlos de Oliveira.

Lembro que ficava na Duque de Caxias, esquina com a Miguel Couto, próximo da Sorvelanche 36, onde se servia o melhor Ice Cream com soda da cidade e também onde a galera se reunia para falar de música e de política.

A loja de discos tinha uma clientela fiel,e também recebia ocasionalmente artistas que passavam na capital para divulgar seu trabalho.
A todos, Beneval – o Benny Anderson – recebia com um sorriso e uma boa prosa. Assunto era o que não faltava num ambiente confortável onde se respirava música de todos os gêneros para todas as idades.

A Jovem Guarda era protagonista, e o lançamento do novo lp de Roberto Carlos,no mês de dezembro, era sempre um acontecimento, mas por esse tempo Chico Buarque era o porta voz da resistência e seu compacto com o hino Apesar de Você também vendeu bem.

Gostava de ficar peruando por lá , até mesmo porque era o lugar ideal para ver as meninas, como na canção de Paulinho da Viola. Eventualmente, um grupo delas entrava na loja e quando isso acontecia, Bené colocava na vitrola os embalos de sábado à noite para animar a festa.

Ainda não existia a naked dress, é bem verdade,mas as saias mini de então eram curtíssimas, por obra e graça da estilista inglesa Mary Quant que havia criado essa peça de roupa que revolucionou o mundo da moda.

O certo é que por essas e outras, a Stop era a parada obrigatória, minha, e de meio mundo da gente que fazia da música a sua melhor companhia.
Não lembro ao certo quando ela acabou, mas durante muito tempo cumpriu a contento o seu papel de formar e divertir gerações. Ponto de encontro de quem vinha de todos os bairros, não era apenas a parada do sucesso. Era também a vida em movimento que tocava o coração.

E isso, o tempo não vai apagar.


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.