Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

A invasão do capitólio como inspiração


10/06/2023

Bolsonaristas invadem o Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro 2023

 

O “modus operandi” foi o mesmo. O atentado terrorista do dia 8 de Janeiro em Brasília teve inspiração na invasão do Capitólio, em 2021, nos Estados Unidos. A motivação era a mesma: reagir contra o resultado da eleição presidencial. A insatisfação com a derrota e a tentativa de, através de um golpe, tentar a volta do ex-presidente ao poder. Os dois eventos antidemocráticos não podem ser considerados apenas coincidências.

Não há dúvidas de que foram acontecimentos arquitetados pela extrema direita mundial, numa articulação internacional contra a democracia no Brasil. Havia uma relação de submissão do governo anterior aos Estados Unidos. O então presidente chegou a declarar publicamente seu amor ao país norte-americano, a ponto de bater continência para a bandeira daquela nação. Trump era seu espelho ideológico. O discurso do anticomunismo era amplamente propagado pelos dois líderes aliados.

Steve Bannon, mentor da extrema direita norte-americana, a quem o governante brasileiro manifestava simpatia e seguia suas orientações, afirmou, logo após o 8 de Janeiro, que os vândalos que se autodenominavam “patriotas”, eram “combatentes da liberdade”. Os militantes fascistas dos Estados Unidos foram intensos na divulgação de fake-news e na retórica do ódio, estimulando os atos golpistas no Brasil.

Surpresos, testemunhamos pela televisão os episódios dantescos protagonizados pelos golpistas, depredando o patrimônio público, ao invadirem as sedes dos Três Poderes, em Brasília. Nunca se viu nada parecido na história do Brasil. Apesar da balbúrdia, é impossível deixar de considerar que a selvageria praticada foi planejada e efetivada com orientação dos líderes antidemocráticos que não aceitavam o resultado que as urnas ofereceram em 30 de outubro do ano passado.

Nada justifica a barbárie ali ocorrida. Direitos e deveres estabelecidos por nossa Constituição foram furiosamente transgredidos. Os delinquentes se mostravam coléricos. Foi um movimento totalitário incitado pela intolerância, o discurso do ódio e o desrespeito às divergências políticas. Tudo com o apoio de ideólogos, financiadores privados (nacionais e internacionais) e de políticos reacionários, radicais de direita.

Ainda bem que houve uma rápida e imediata reação em defesa da normalidade institucional e do Estado Democrático de Direito. Os promotores dessa estúpida e absurda ação que objetivava desqualificar a nossa democracia e o nosso povo, se mostraram despreparados para o golpe. Desastrados, transformaram uma manifestação de protesto político, numa evidente atividade de cunho terrorista. Contudo, não deram apenas um tiro no próprio pé, mas no coração dos brasileiros convictamente democratas. O golpe arquitetado falhou, mas precisamos continuar atentos, reforçando a trincheira de luta em defesa da democracia.


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