Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A eleição de Geisel


08/08/2015

Foto: autor desconhecido.

A eleição do General Ernesto Geisel, para a Presidência da República, no dia 15 de janeiro de 1974, foi acompanhada por todos nós paraibanos com interesses especiais. A primeira delas, comungando com a esperança de todos os brasileiros da prática de sua promessa na “promoção da abertura democrática, lenta gradual e segura”. E, em segundo lugar, em razão do novo presidente ter estabelecido vínculos com o nosso Estado, quando nos idos de 1935, no Governo de Gratuliano de Brito, aqui exerceu o cargo de Secretário da Fazenda, Agricultura e Obras Públicas.

Sua eleição se deu num Colégio Eleitoral integrado por membros do Congresso Nacional e delegados das Assembleias Legislativas Estaduais. A própria composição desse colégio já indicava que assistiríamos uma simulação de eleição, pois da sua totalidade de 502 componentes, 412 eram filiados a ARENA e apenas 91 vinculados ao MDB.

De qualquer forma o partido da oposição decidiu registrar uma chapa para a disputa, tendo Ulysses Guimarães como candidato a Presidente e o jornalista Barbosa Sobrinho a vice. Os dois aproveitaram para, a pretexto de estarem em campanha, percorrerem o país denunciando a forma indireta das eleições, o cerceamento das liberdades individuais e a concentração de renda imposta pelo modelo econômico vigente. Na verdade queriam um palanque para que se inciasse o movimento pela redemocratização.

O resultado, como era de se esperar, apontou uma esmagadora vitória dos candidatos do regime ditatorial: os generais Geisel e Adalberto Pereira dos Santos, obtendo 400 votos contra 76 da chapa da oposição. Alguns peemedebistas se abstiveram de apoiar o projeto político do Doutor Ulysses.

Geisel assumiu o governo no momento em que se findava o que chamavam de “milagre econômico”, tendo o país no seu primeiro ano de gestão alcançado o índice de 35,5 por cento de inflação. Todavia algumas ações de abrandamento da política foram empreendidas no seu governo, tais como as eleições diretas para senadores, deputados federais e estaduais no mesmo ano em que assumia o mandato e a extinção do AI5 no último dia do ano de 1978.

Surpreendido com a resposta do povo no pleito de 1974, quando das vinte e duas vagas ao senado, o MDB conquistou quinze cadeiras, aumentando inclusive a sua bancada na Câmara dos Deputados, se viu obrigado pela linha dura do sistema a lançar o Pacote de Abril em 1977, mantendo as eleições indiretas para governador, limitando o uso dos veículos de comunicação nas campanhas das eleições parlamentares e criando a figura do senador biônico.

De qualquer forma, foi durante o período em que esteve à frente do governo que o país começou a viver um processo de abertura política que avançou para as campanhas das “diretas já” e da “anistia geral e irrestrita”, levando multidões às ruas.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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