Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A democracia da opinião única


28/12/2015

Foto: autor desconhecido.

A DEMOCRACIA DA OPINIÃO ÚNICA

A degeneração do clima político em nosso país está contribuindo para se forme a “democracia da opinião única”. A polarização estabelecida entre situação e oposição ao governo, tem levado a conflitos fundados na intolerância da opinião contrária. Isso vale para os dois lados. Ninguém admite que os circunstanciais adversários exponham seus pensamentos e opiniões de forma livre.

Ficamos então sem exercitar o debate construtivo, respeitando as discordâncias. Como não existe, na maioria das vezes, a crítica racional, mas aquela que é colocada no calor das emoções e das paixões políticas, o comportamento que está se tornando comum é a desqualificação do opositor, promovendo o terrorismo intelectual e moral.

Maquiavel já dizia que “as ideologias se diferenciam conforme as condições de vida dos seus defensores”. Prevalecem, logicamente, os interesses pessoais ou de grupos. E, por conta disso, os embates discursivos se dão na provocação que procura constranger os divergentes. Aí então o debate cai para o baixo nível, com agressões de parte a parte, com ataques à honra e a dignidade pessoal dos oponentes.

O mais grave é que cada um acha que está cumprindo dever ético revolucionário ao se posicionar dessa forma. Interessante que todos falam como se expressassem o pensamento majoritário e da verdade absoluta, sem perceberem que, via de regra, estão sendo manipulados por instrumentos de persuasão que escondem seus verdadeiros objetivos ao propagarem idéias. Tornam-se massa de manobra dos aproveitadores de ocasião.

O patrulhamento político se consolida nessa polêmica entre extremos. A radicalização cega o entendimento e a compreensão real dos fatos, exacerba ânimos apaixonados, forma grupos sectários e fanáticos. Quando se configura essa situação, os contendores perdem a razão, deixam de ser debatedores de uma causa, para serem contendores de uma guerra.

Espero que a sensatez volte a imperar na nossa cena política. Desejo que vivamos num país onde os amigos tenham o sagrado direito de divergir um do outro sem o risco de serem ofendidos, que pessoas públicas possam verbalizar suas opiniões sem sofrerem a execração dos que com elas não concordam, que nas famílias possam haver discrepâncias no pensamento político sem que isso venha a promover intrigas e distanciamentos entre parentes.

É profundamente lamentável que estejamos vivendo essa temperatura política. A sua prática em nada ajuda sairmos da crise em que mergulhamos. Pelo contrário, alimentados pelo ódio e a intolerância, ficaremos cada vez mais distantes de encontrarmos a saída que se faz necessária. Enquanto estivermos querendo impor uma democracia de opinião única, marcharemos para a afirmação de um povo que perdeu sua consciência política livre e soberana.
 


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