Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

A crise como desculpa para tudo


29/12/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Não podemos desconhecer que estamos em meio a uma grave crise econômica, moral e política. A mídia tem se encarregado em oferecer dimensões apocalípticas á crise circunstancial. Claro que isso traz preocupações a todo mundo. Sabemos que seus efeitos têm repercussão na vida de cada um de nós.

No entanto, o caos termina sendo estratégia política. Há quem aposte no “quanto pior melhor”, uma vez que gerando a sensação de catástrofe, se encontra fundamento para a adoção das mais extravagantes atitudes, ainda que contrariando o bom senso, a racionalidade. A crise produz os mais estapafúrdios discursos, revela os pregoeiros da desgraça, personalidades até então adormecidas, contribui para que se estabeleça um clima de hipnose coletiva, onde se verifica a perda da consciência política e, por conseqüência, a postura alienada forma grupos usados como massa de manobra.

Embalados na “onda midiática” da crise passamos a admitir que chegamos ao “fim do mundo”. E nesse quadro tudo é possível e aceito, desde que amparado na promessa de que as dificuldades serão vencidas. Esse é o risco que o momento nos apresenta. Perdemos a noção da razoabilidade, pressionados pela intranqüilidade e pelo medo de que sejamos devorados pela crise.

A história tem demonstrado que já conseguimos em tempos pretéritos superar crises iguais ou até maiores do que a atual. Recusarmos a compreender isso seria a proclamação da nossa incapacidade de enfrentar desafios, atravessar tempestades, fomentar o espírito criativo que permita identificar saídas. Não podemos perder a confiança em nós mesmos. É irresponsável agir movidos pelas paixões políticas, liderados por inconseqüentes, e, ao invés de debelarmos o incêndio, colocarmos gasolina que dá mais combustão ao fogo.

Recusemos as manifestações de que a crise serve como desculpa para tudo. Pelo contrário a crise deve ser encarada, principalmente, como a oportunidade de repensarmos com responsabilidade nosso comportamento cívico, combatendo as mazelas (corrupção, má gestão pública, estelionato eleitoral, demagogia, ambição desmedida pelo poder, injustiças sociais) que nos levaram a esse estágio. A crise exige sabedoria, cobra inventividade, estimula a necessidade de renovação, reconstrução, novo aprendizado. Ela tem o condão de se afirmar como causa revolucionária, jamais como produtora da desesperança, do desânimo, da desilusão.
 


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