Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Paraíba

A bolha     


18/08/2024

Tempos atrás escrevi sobre o fenômeno Colleen Hoover, a escritora norte-americana que descobriu a fórmula do sucesso, falando a linguagem das adolescentes, com best sellers que estão vendendo milhões de exemplares em todo o mundo.

Pois bem, essa semana foi lançada a adaptação cinematográfica do seu livro mais famoso, que se chama É Assim Que Acaba, e que aborda a violência doméstica. São dezesseis livros no total, e independente do valor literário de sua obra, não tem como não reconhecer o seu mérito em conseguir que essa nova geração volte a ler como antes.

Daí para a descoberta de outros autores e obras, é um passo. A minha filha, por exemplo, fã incondicional da americana, já leu uma inglesa – Jane Austen, maravilhosa – e um português – José Saramago, de notório saber.
Mas, voltando ao filme em cartaz, ele vem agradando ao público de seus livros, e atraindo uma multidão ruidosa que vem lotando as salas de exibição dos cinemas locais.

Curioso, quis saber de Cora, a minha filha, que nota ela daria ao longa, e reclamei que não conhecia quase ninguém do elenco, ao que ela retrucou.

⁃Não tem como conhecer. Não é da sua bolha.

A resposta, curta e grossa, me devolveu ao mundo real. Na verdade, há uma distância enorme entre a minha geração e a dela. Não só a minha, mas também a geração da mãe e de muitas outras que antecederam a desse povo novo, careta e mais focado no futuro.

Uma galera, se é que pode ser chamada assim, que bebe pouco – quando bebe -, não fuma, quase que não usa drogas e que convive com questionamentos como o racismo e muitos outros preconceitos, principalmente os relacionados com a sexualidade.

Tudo isso e mais a violência doméstica, o estupro, o feminicídio e diversos outros crimes cometidos contra a mulher. Sem falar no assédio e nas portas que se fecham para o crescimento político, social e econômico delas.

Num contexto mais amplo, é também a geração que não se submete e que jamais será tiranizada.

Daí a importância de sua bolha, onde ela se sente mais segura, e por sua abrangência impede a entrada de quem não reza pela sua cartilha.

É bom lembrar que,recentemente , foram os estudantes universitários, com seus protestos, que derrubaram a primeira ministra de Bangladesh.

Uma prova inequívoca do poder de fogo  dessa geração, que desistiu de construir seus sonhos com alucinógenos e foi para a linha de frente defender os seus interesses, por cima de pau e pedra.

Tudo isso para que o sonho não acabasse sem muita resistência e força de vontade. No caso das mulheres, ainda, elas são maioria entre os inscritos para o Enem dos Concursos, como também foram a maioria entre os atletas premiados com a medalha de ouro.

Uma bolha poderosa, como se pode ver.E também intransponível.

E que foi aperfeiçoando os seus conceitos através do tempo.

Não sei onde e quando isso vai acabar

Só sei que É Assim Que Começa.


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