O salário continua sendo o fator que mais influencia os jovens brasileiros na hora de escolher um emprego, segundo pesquisa divulgada nesta segunda-feira (3) pelo Senai e Sesi, com apoio da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ). O levantamento, que entrevistou 1.958 jovens entre 14 e 29 anos em todas as regiões do país, mostra que a remuneração é mais valorizada que a flexibilidade de horários ou o modelo híbrido de trabalho.
Mais da metade dos entrevistados (55%) afirmou que não aceitaria uma jornada mais flexível se isso resultasse em redução de salário, mesmo que oferecesse mais tempo livre para atividades pessoais. Além da remuneração, os jovens priorizam oportunidades de crescimento profissional e benefícios complementares, como plano de saúde e auxílio-transporte.
Os três principais critérios para a escolha de uma vaga são:
Salário (41%);
Oportunidades de crescimento (21%);
Benefícios extras (20%).
A pesquisa também revela que os jovens não hesitam em mudar de emprego quando as condições não atendem às expectativas. Baixa remuneração é o principal motivo para a troca (50%), seguida pelo estresse (28%).
“Mais do que se adaptar às transformações do mercado, a nova geração busca participar delas. O desafio é conectar essa disposição com oportunidades reais de formação e trabalho, unindo significado, segurança e futuro”, afirma o diretor-geral do Senai, Gustavo Leal.
Apesar de 66% dos jovens, especialmente as mulheres, considerarem o modelo híbrido atrativo, o salário ainda é o fator decisivo. Muitos preferem uma rotina mais rígida se isso garantir uma remuneração melhor.
“Os dados mostram que o salário abre a porta e atrai os jovens no início, mas é o respeito que mantém o engajamento, o propósito que sustenta o comprometimento e o plano de carreira que garante a permanência”, analisa o diretor-superintendente do Sesi, Paulo Mol.
Geração Z e o desafio do engajamento
Outro levantamento, do Engaja S/A, realizado pela Flash em parceria com a FGV EAESP, revela um cenário de queda no engajamento dos trabalhadores brasileiros, especialmente entre os mais jovens. Apenas 39% dos profissionais afirmam estar engajados, o menor índice desde o início da série histórica.
Entre as gerações, a Geração Z é a que mais demonstra insatisfação e vulnerabilidade emocional: 25% relatam ansiedade diária, em contraste com apenas 7% entre os Baby Boomers. Esse grupo também apresenta menor comprometimento com as empresas e maior propensão a mudar de emprego com frequência.
De acordo com o estudo, a combinação de turnover e presenteísmo gera perdas de cerca de R$ 77 bilhões por ano, o equivalente a 0,66% do PIB.
“Embora a remuneração seja relevante, ela não compensa deficiência no clima organizacional nem na qualidade da gestão. Relações de confiança, oportunidades de desenvolvimento e ambiente saudável continuam sendo os principais determinantes do engajamento”, explica Renato Souza, professor da FGV EAESP e coautor do estudo.
O relatório também aponta que medidas de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, como modelo remoto ou híbrido, day off de aniversário e benefícios flexíveis, estão associadas a níveis mais altos de engajamento.
Trabalhadores que atuam em modelo híbrido registram 53% de engajamento, 14 pontos percentuais acima da média nacional. Já os que seguem escalas intensas, como 6×1 ou 12×36, apresentam menor satisfação e maior incidência de ansiedade, insônia e fadiga.
Educação, tecnologia e futuro na indústria
A pesquisa do Senai e do Sesi também mostrou que o desejo de crescer profissionalmente está fortemente ligado à educação: 79% dos jovens querem continuar estudando, e 88% aceitariam participar de cursos técnicos, graduações ou microcertificações gratuitas.
A tecnologia é vista como aliada: 68% dos entrevistados consideram as competências digitais essenciais para o mercado, como análise de dados, comunicação, edição de conteúdo e vendas online.
Mesmo diante de incertezas sobre o impacto da automação, 75% acreditam que a inteligência artificial pode aumentar a produtividade.
O levantamento revela ainda que 49% dos jovens têm interesse em trabalhar na indústria, especialmente os homens. Entre os que têm 25 a 29 anos, 41% já procuraram vagas no setor, uma tendência que cresce à medida que a maturidade profissional avança.
Pensando no futuro, 53% acreditam que a indústria pode oferecer boas perspectivas de carreira e renda nos próximos 20 anos.