Paraíba

Exclusivo: Aldo Lopes encara desafio de ter respaldo dos acadêmicos para eleição como maior legado


24/02/2024

Foto: Arquivo pessoal

entrevista por Walter Santos



Quem não conhece o novo imortal da Academia Paraíbana de Letras, Aldo Lopes de Araújo, natural de Princesa Isabel, precisa saber que sua história se fundamenta na dedicação às letras e ter sido eleito por 26 dos 26 votos acadêmicos presentes se traduz em legado. Nesta entrevista, ele se apresenta ao mundo intelectual paraibano de forma atualizada.

WSCOM – Como é sentir-se eleito pela unanimidade presentes dos membros da Academia Paraibana de Letras?
ALDO LOPES – O resultado do pleito foi histórico dada as peculiaridades deste. Candidato único, num quórum mínimo de 16 votos, conquistei 26 votos dos 30 válidos. Não foi possível a alternativa do voto virtual de alguns que já haviam manifestado o voto, mas se encontravam fora da Paraíba. Isso demonstra a inequívoca receptividade ao meu nome. Como não sou político, tampouco homem de prestígio no meio social, atribuo esse fato exclusivamente ao meu trabalho literário, aos meus livros, desde o final dos anos 80 que diuturnamente tenho me dedicado à produção de textos literários. Tenho direcionado todas as minhas energias para essa “guerra sem testemunhas” de que fala o escritor pernambucano Osman Lins.

WSCOM – Não ter concorrente é outro status raro num ambiente de disputas. Ao que você considera ter sido fruto da candidatura única?

ALDO LOPES – A candidatura única sinaliza que o candidato é turbinado. Os prováveis contendores avaliaram o tamanho do muque e deram o fora, abandonaram o tatame. A aceitação do meu nome para disputar a vaga deixada pelomédico escritor Guilherme d’Avila foi unânime. Mas é preciso destacar uma coisa: a candidatura única tem um pouco de armadilha. O candidato pode morrer por asfixia, não atingir o quórum por falta de votos. No meu caso, num quórum de 16 votos, obtive 26 dos 30 válidos, sem contar os que estavam ausentes da Paraíba e não puderam manifestar sua vontade pelos meios virtuais.

WSCOM – Qual o legado intelectual que você leva ao sofisticado ambiente de produção e referência das letras?

ALDO LOPES – Pertencer a Academia Paraibana de Letras me dá a sensação de que o animal desgarrado retornou ao seu habitat natural. E chego à casa com minha experiência de quase 40 anos de trabalho ininterrupto com a literatura, desde os tempos em que militei na imprensa diária, como repórter de cultura, você sabe disse porque era o editor do jornal e sempre foi um cara muito exigente. Depois enveredei pelos caminhos tortos do Direito, e a necessidade de criar os filhos me obrigou a sentar o fundo numa cadeira e estudar para concursos. Trago, portanto, para a instituição a experiência de quem editou cadernos de cultura, a exemplo do Correio das Artes, de quem participou de movimentos literários como Oficina Literária, dos tempos de Juca Pontes e Alberto Arcela, enunca abandonou a cena e o ringue dos doces e românticos embates literários dos anos 80 e 90, sem falar na militância underground dos tempos de estudante da UFPB.

WSCOM – Como você se apresentaria aos leitores para quem não lhe conhece?

ALDO LOPES – Eu diria, como Mário de Sá Carneiro: “Eu não sou eu nem dou outro / sou qualquer coisa de intermédio / pilar da ponte de tédio / que vai de mim para o outro. Exercitar a literatura é fazer um pacto com a solidão, falar sozinho, conversar com seus fantasmas”. Mas eu só me completo e passo a existir se o meu texto cair nas mãos do leitor, que é o cara da ponta, o destinatário de todas essas confissões, de todos esses desabafos. Daí a necessidade que tem o escritor de publicar seus livros. Umberto Eco disse certa vez que o texto é uma máquina preguiçosa, para a consecução dos seus objetivos ele exige a participação do leitor. Assim, o trabalho literário somente se completa a partir do momento em que é lido. Portanto, sem uma pessoa para ler a obra, o autor está morto. E eu morri o ano passado, mas esse ano eu não morro. Agora sou imortal.



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