A guerra invisível que separa famílias e move eleições

Algoritmos, bolhas e discursos radicais alimentam um ciclo de intolerância que ameaça a democracia.

A polarização política no Brasil atingiu um nível alarmante. Como um veneno que se infiltra em cada conversa, ela tem transformado amigos em inimigos e dividido famílias inteiras. O fenômeno, que se intensificou nos últimos anos, não se restringe mais a debates políticos: ele permeia o cotidiano, criando um ambiente tóxico de hostilidade e intolerância.

Trabalhamos com análise de Big Data e, em todos os estudos que realizamos nos últimos seis anos, uma verdade é inegável: a polarização está mais forte do que nunca, alimentada pelo fluxo incessante das redes sociais e pela dinâmica das bolhas digitais. O que antes era um simples embate de ideias se transformou em uma guerra ideológica sem trégua, onde a emoção supera a razão, e a identidade política se sobrepõe às relações humanas.

O crescimento exponencial desse fenômeno a partir de 2018 foi amplificado de forma constante, manipulado pelos algoritmos das plataformas digitais. Do ponto de vista técnico, esses sistemas são programados para maximizar atenção e engajamento.

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Eles observam nossos cliques, curtidas e interações e, a partir disso, passam a recomendar mais conteúdos semelhantes, reforçando preferências já existentes. Esse processo cria o que chamamos de bolhas digitais: espaços em que vemos apenas aquilo que confirma nossas visões de mundo. À medida que a audiência aumenta, cresce também o compartilhamento, e a sensação de verdade é reforçada sem que analisemos outros pontos de vista. O resultado é um ambiente de validação constante, onde a pluralidade se perde e o debate democrático se transforma em eco.

O que agrava ainda mais esse quadro é o fato de que até mesmo espaços que deveriam ser dedicados à reflexão espiritual como as igrejas foram engolidos pela lógica da polarização. Em muitos púlpitos, a palavra que deveria unir passou a dividir. Sermões que antes falavam de fé e solidariedade hoje trazem contornos de campanha eleitoral, transformando altares em palanques e comunidades em trincheiras políticas. O sagrado se contamina com o mundano, e a espiritualidade cede lugar à disputa de narrativas.

Do ponto de vista filosófico, podemos dizer que vivemos o triunfo do ressentimento. Nietzsche já alertava para o perigo de uma sociedade dominada por paixões reativas, onde o valor do indivíduo é medido não pela criação de algo novo, mas pelo ódio ao outro. Em vez de pontes, construímos muros. Em vez de diálogo, colecionamos inimigos. A polarização social doentia não só destrói a política como envenena o tecido humano que sustenta a vida em comunidade.

Essas e outras questões sobre o impacto do digital na política brasileira são aprofundadas no meu livro “Brasil Digital nas Entrelinhas da Polarização Política: Uma Análise de Big Data de 2017 a 2024”, que já foi lançado e alcançou o reconhecimento de semifinalista no Prêmio Jabuti Acadêmico. A obra mostra como a desinformação e a manipulação algorítmica moldaram o cenário político nos últimos anos, influenciando percepções e direcionando comportamentos. Mais do que uma análise técnica, é um alerta para os desafios que enfrentamos e para a necessidade urgente de reconstruir pontes no debate público.

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