As crises econômicas são fases de contração da produção e acumulação de capital real. A sua livre propagação gera desemprego e convergência à recessão e depressão. Embora surgindo na área financeira, as suas causas estão no excesso de capacidade produtiva em relação à demanda nos mercados de bens e serviços.
A atual crise global do capitalismo surgiu nos Estados Unidos(EUA) em 2008. As ações do governo e do Federal Reserve, o banco central norte-americano, custaram dezenas de trilhões de dólares. O seu êxito foi resgatar o sistema bancário e creditício-financeiro do caos, mas não fizeram a economia real andar com suas próprias pernas.
Para o governo do país mais desenvolvido, o custo das ações anticrise foi o maior da história. De 2008 a 2014, a dívida pública passou de 64% para 106% do PIB e o déficit público chegou a 13,6%. A expansão monetária foi de mais de US$ 10 trilhões, para salvar bancos, estimular o crédito, baixar a taxa de juro e estimular a economia.
A economia dos EUA está crescendo em torno de 2% ao ano, com desemprego de 6%. A sua taxa anual básica de juros é 0,26% e a inflação 2%. Mas os investimentos privados e o consumo não reagem nos níveis esperados. A política monetária tem pouco a fazer, já que a taxa nominal de juro não pode ser negativa.
Na União Europeia o custo das ações dos governos contra a crise foi gigantesco. Nos últimos sete anos, a dívida pública/PIB passou de 59% para 87% e o déficit público/PIB foi até 9,7%. A expansão monetária equivaleu a trilhões de dólares. Evitou-se o desastre financeiro, mas a economia real está pior, comparada à dos EUA.
A taxa básica anual de juro da Europa é 0,05% e a inflação 0,5%, tendente à deflação. Em janeiro, o Banco Central Europeu anunciou injeções mensais de dinheiro que totalizarão mais de um trilhão de euros, até setembro de 2016. O objetivo é estimular o crédito, o consumo, os investimentos e gerar uma inflação virtuosa de 2%.
Como se vê, nos EUA e Europa, a crise é muito grave. Mesmo com juros reais negativos e inflação muito baixa os investimentos são insuficientes. Portanto, os níveis de produtividade e eficiência do capital devem ser baixíssimos. Essa crise não existe no Brasil. Ainda há muito espaço para as políticas fiscais e monetárias reduzirem a inflação e os juros elevando o crescimento econômico.
No Brasil, no período 2008-2014, a dívida pública/PIB passou de 58% para 64,5% e o déficit público/PIB 2,8% para 6,7%. O PIB cresceu a 1,5% ao ano e o desemprego caiu de 4,9% para 4,3%, apesar do aumento da alta taxa básica de juro, de 8,6% para 11,75%, e da inflação de 5,8% para 6,4%.
Na realidade brasileira atual, a taxa de juro Selic de 13,75% e inflação de 8,2% são atípicas. Não há indicação de crise econômica e sim de desajustes fiscais. A economia real tem grandes oportunidades de investimentos, que serão aproveitadas com a queda dos juros e da inflação que virá com os ajustamentos em curso.