A politicagem

 

É preocupante a percepção de que a “politicagem” tornou-se um vício na política. E isso faz com que a população fique cada vez mais desencantada com o exercício da política. A maioria, lamentavelmente, deixa de considerar a política, enquanto ciência de organização e administração visando o bem coletivo, para vê-la como algo para o qual manifesta grande aversão. Prevalece uma tendência a generalizar os políticos como corruptos, pessoas inescrupulosas, que só pensam no atendimento aos interesses pessoais ou de grupos privilegiados.

Esse conceito tem fundamento nas decepções que a sociedade vem sofrendo, ao constatarem o mau comportamento de muitos dos indivíduos que exercem cargos públicos. Esses não praticam a política, no estrito senso da palavra, são, na verdade, contumazes na arte de fazer “politicagem”.

No entanto, me arrisco a afirmar que a “politicagem” não está restrita aos seus agentes profissionais, ela se coloca na ausência de ética e idoneidade por grande parte dos que rejeitam a política. Os mesmos que criticam os corruptos, os desonestos, são os que não se envergonham em trocar favores por votos, em oferecer propinas para se livrarem de punições por violarem normas de conduta, aceitam empregos como moeda de troca para contribuir na ascensão de pessoas incompetentes, irresponsáveis e indignas, ao poder.

Tudo na vida gira em torno da política. Não se vive sem ela. O que nos preocupa é a distorção da sua prática. Enquanto estivermos, nós cidadãos comuns, omissos pelo descrédito, coniventes nos atos ilícitos que testemunhamos a cada dia, desinteressados em mudar essa situação, ficaremos estimulando a politicagem, em detrimento da verdadeira política.

A política no campo das ideias e das ações em favor da coletividade é algo saudável e necessário. Temos que nos livrar é da politicagem, aquela que atua ao sabor dos interesses pessoais, eleitoreiros ou de grupos. Entretanto, essa realidade nunca será alterada se mantivermos uma postura de passividade ou da simples proclamação de ódio aos políticos. Rejeitemos os maus políticos, mas não renunciemos ao dever de fazermos política. Dessa maneira, estaremos promovendo uma revolução cultural que anulará os efeitos danosos dos que insistem em fazer “politicagem”.

• Integra a série de crônicas “SENTIMENTOS, EMOÇÕES E ATITUDES”.

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