“Chuva, suor e cerveja”

Em 1972 o Brasil conheceu uma das pérolas musicais do seu carnaval, o frevo “Chuva, suor e cerveja” de Caetano Veloso. Sua letra fala da liberdade de brincar, no tríduo momesco, sem perder de vista a companhia da pessoa que gosta.

“Não se perca de mim/Não se esqueça de mim/Não desapareça”. O sujeito da música faz questão de alertar a parceira para o cuidado de não se perder dele no meio da orgia carnavalesca. Nem se encantar com os prazeres da folia e esquecê-lo. Revela o medo de que ela desapareça, fuja ou saia da sua vida.

“A chuva tá caindo/E quando a chuva começa/Eu acabo perdendo a cabeça”. Na animação da festa sente o prazer do corpo molhado pela chuva. Experimenta uma sensação gostosa ao receber seus pingos, entra em êxtase, sente-se embriagado, “perdendo a cabeça” num gozo fora da racionalidade.

“Não saia do meu lado/Segure o meu pierrot molhado”. Repete a advertência de que ela não deve se afastar. Pede que segure a sua fantasia encharcada da chuva, e continuem juntos ao sabor da alegria contagiante do carnaval.

“E vamos embolar/Ladeira abaixo/Acho que a chuva/Ajuda à gente se ver”. Descendo a ladeira, entende que a chuva termina por exigir que eles não se distanciem um do outro, para que assim não tenham dificuldade de se avistarem na multidão.

“Venha, veja, deixa/Beija, seja/O que Deus quiser”. No carnaval não há regras, limites de conveniência, tudo é possível. Chama a parceira para esse ritual profano de envolvimento e entusiasmo próprio do carnaval. E segue nessa brincadeira de amar, tocar, beijar sem limites e “seja o que Deus quiser”, num comportamento que chega a beirar à irresponsabilidade.

“A gente se embala/Se embora, se embola/Só pára na porta da igreja”. E sem medir consequências continuam na marcha da folia, e, numa espécie de promessa de casamento, diz que só devem parar quando estiverem na frente de uma igreja. Ninguém sabe se, efetivamente, para casarem ou para pedirem perdão pelos pecados cometidos.

“A gente se olha/Se beija, se molha/De chuva, suor e cerveja”. O deleite, das emoções vividas, fica mais forte quando se sentem molhados, pela chuva, com os corpos suados, de tanto dançarem, e inebriados pelos efeitos da cerveja. Um carnaval onde a mistura da chuva, suor e cerveja, faz a festa ficar mais animada e excitante.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

 

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