Essa canção apesar de possuir uma letra que transmite um sentimento de tristeza por um amor desfeito, pode ser considerada um dos clássicos da música popular brasileira. Composta numa parceria de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha, foi lançada em 1957.
“Tire o seu sorriso do caminho/Que eu quero passar com a minha dor/Hoje pra você eu sou espinho/Espinho não machuca a flor”. Nada mais doloroso do que perceber alguém sorrindo com a sua tristeza. Ainda mais quando essa pessoa é a causa do seu sofrimento. Entende que deixou de ser considerado o companheiro dos momentos agradáveis. Como se fosse agora algo que incomodasse, um “espinho”. No entanto, chama a atenção para o fato de que a flor e o espinho convivem na mesma constituição da natureza botânica, mas não se machucam com a proximidade um do outro. “O espinho não machuca a flor”, antes pelo contrário, ele a protege quando tentam retirá-la de forma agressiva, brutal.
“Eu só errei quando juntei minh’alma a sua/O sol não pode viver perto da lua”. Reconhece, todavia, a incompatibilidade entre eles. São contrários, infelizmente não se combinam. Não ter percebido isso em tempo foi o seu grande erro. Afinal de contas, “o sol não pode viver perto da lua”, estão distantes, e jamais poderão estar próximos. Melhor sofrer respeitando o espaço da separação.
“É no espelho que eu vejo a minha mágoa/A minha dor e os meus olhos rasos d’água”. O seu rosto refletido no espelho denuncia todo o seu pesar com as circunstâncias. É a pura imagem da desolação, com os olhos vermelhos de tanto chorar o desenlace. Um profundo abatimento, embora resignado.
“Eu na sua vida já fui uma flor/Hoje sou espinho em seu amor”. Lembra-se dos instantes de enlevo que vivenciaram juntos, um tempo em que era considerado “uma flor”, com toda a sua pureza e a sua capacidade de provocar deslumbramento. A situação em que se encontra o “eu lírico” mudou a configuração, passou a ser visto como um espinho, um embaraço, alguém que se tornou importuno, que causa desconforto na relação, antes amorosa.
• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”