“As rosas não falam

A riqueza poética das músicas de Cartola é algo de extraordinário. As letras de suas canções têm uma sensibilidade impressionante e são de uma beleza lírica que fizeram com que se consagrasse como um dos mais talentosos compositores da música popular brasileira, em todos os tempos. “As rosas não falam”, foi lançada em 1976, é uma de suas obras primas que enriquecem o cancioneiro nacional.

“Bate outra vez/com esperanças o meu coração/pois já vai terminando o verão/enfim”. A saudade vem sempre acompanhada de esperanças de um retorno. O coração bate mais forte quando as lembranças de algo bom, vivido, permitem sentir o desejo de que possa ser repetido. À medida que o tempo passa essa esperança, ainda que nunca deixe de existir, vai diminuindo. O compositor fala que “já vai terminando o verão, enfim”, como se quisesse dizer que o tempo está passando e não acontece o que tão ansiosamente está esperando.

“Volto ao jardim/com a certeza de que devo chorar/pois bem sei que não queres voltar/para mim”. O jardim é um ambiente onde o romantismo se exprime espontaneamente, pela beleza das flores. O cenário adequado para curtir essa paixão inesquecível que ainda domina seu coração. E da desilusão nasce o choro, com a certeza de que essa vontade de voltar, que ele sente, não tem correspondência.

“Queixo-me às rosas/mas que bobagem/as rosas não falam/simplesmente as rosas exalam/o perfume que roubam de ti/ai”. Tendo as rosas como companheiras desse instante de tristeza, confidencia suas queixas como se elas pudessem lhe ajudar. Aí constrói um dos mais belos versos da música brasileira: “as rosas não falam, simplesmente exalam o perfume que roubam de ti”. Não precisa dizer mais nada, exagera sua adoração pela mulher amada, ao dizer que as rosas só são cheirosas porque roubaram o seu perfume.

“Devias vir/para ver os meus olhos tristonhos/e, quem sabe, sonhavas meus sonhos/por fim”. Queria que ela percebesse seu desalento, o seu olhar cheio de saudades. Talvez assim ela decidisse dividir com ele o prazer que seus sonhos produzem. A esperança de que ela volte algum dia não consegue desaparecer.
• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

 

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