Amor fugaz, é disso que fala o compositor Zé Ramalho em sua música “Chão de giz”. Inspirada numa história de amor vivida na sua juventude, ele fala desse sentimento apaixonado por uma mulher mais velha do que ele, casada, que não queria nada mais do que realizar suas fantasias sexuais.
“Eu desço dessa solidão/espalho coisas sobre um chão de giz/há meros devaneios tolos a me torturar” Lembranças de um amor que o faz sofrer. Recordações inesquecíveis de momentos vividos que na saudade tornam-se tortura. A solidão remete o apaixonado a rememorar o prazer desse amor passageiro, mas que deixou marcas profundas no coração.
“Fotografias recortadas em jornais de folha, amiúde/eu vou te jogar num pano de jogar confetes” A mulher que o fez delirar de amor era casada e pertencia a alta sociedade, vivia freqüentando as colunas sociais. Através das fotos dos jornais reencontra na lembrança a mulher que faz ele continuar sonhando. Mas resolve, desencantado, jogar tudo “num pano de jogar confetes”, como se quizesse enfim esquece-la.
“Disparo balas de canhão/é inútil, pois existe um grão-vizir/há tantas violetas velhas sem um colibri”. Enfatiza a diferença de idade entre eles e se coloca como um colibri que procura uma violeta velha. Percebe a inutilidade de disparar balas de canhão, porque nunca atingem o alvo desejado. Suas manifestações de amor não são compreendidas e aceitas.
“Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de Vênus/mas não vou gozar de nós apenas um cigarro/nem vou lhe beijar gastando o meu batom”. A “camisa de força” como se fosse algo obrigado, compulsório, nesse desejo louco de estarem juntos. A “camisa de Vênus” como expressão do ato sexual, o instante sublime do encontro de corpos dos amantes. Mas não é isso que ele quer. Anseia por algo permanente, duradouro, eterno. Não um prazer que tenha a duração de um cigarro. Não adianta gastar o batom nesse efêmero gostar.
“Agora pego um caminhão na lona, vou a nocaute outra vez/pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar/meus vinte anos de boy Freud explica”. Confessa que está preso a esse amor. Quer fugir “num caminhão”, mas se ver novamente sendo levado a nocaute. Vencido pelos desejos, jogado ao chão pela força da paixão. Mas tudo isso deve ser creditado à imaturidade. “Freud explica” como um jovem se deixa levar pelos encantos de uma mulher mais velha do que ele.
“Quanto ao pano de confetes/já passou meu carnaval/e isso explica porque o sexo é assunto popular”. Decidiu jogar para trás essa história. Passou, agora são meras recordações. Afinal de contas percebeu que ele era somente objeto. O sexo como banalidade, assunto popular, sem a importância da sintonia entre casais.
“No mais estou indo embora”. A despedida. “Jogou a toalha”, desistiu. Entendeu que foi “um rio que passou em sua vida”.
• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚ