A compra de votos como fenômeno eleitoral

  

É comum ouvirmos, nas conversas de avaliação do quadro político, neste momento final de campanha eleitoral, a afirmação de que “eleições se ganham nos últimos dias”, ou que “tudo pode mudar na véspera da eleição, porque fulano ou sicrano está com muito dinheiro para gastar”. E isso tudo é dito e admitido com a maior naturalidade.

Ora, assim fica configurada a assertiva de que “a compra de votos” ainda é um fenômeno presente nas eleições brasileiras. Como entender que alguem possa definir a sua eleição nos últimos dias sem que seja através dos “arranjos próprios da prática de corrupção”? E as propostas apresentadas no curso da campanha e que certamente influenciaram na sinalização das preferências do eleitorado? Isso não vale nada?

Não contesto o entendimento de que, realmente, o quadro possa sofrer alterações nos derradeiros dias da campanha. Um fato politico de repercussão pode abater alguem que lidera as pesquisas e catapultar outro que esteja em desvantagem. Mas o que se houve, como se fosse a coisa mais natural do mundo, é que a eleição pode ser ganha em razão do poder econômico e politico de determinados candidatos ou apoiadores. É de causar perplexidade compreender isso como normal num embate eleitoral.

O voto é um direito universal para os que vivem num regime democrático, onde o cidadão indidualmente faz suas escolhas de forma consciente e livre. Todo voto deveria ser justo e incorruptível. Deveria. Na prática, lamentavelmente, isso não ocorre. A troca de favores muitas das vezes determina a opção que o eleitor fará na urna. Portanto, o universo político está cheio de corruptores (lideranças e cabos eleitorais) e corrompidos (os eleitores que negociam seu voto).

A sedução material utilizada como instrumento de convencimento às vésperas da eleição, é exercitada no Brasil com extrema competência por cabos eleitorais que se profissionalizaram na compra de votos. Se alguem se der ao trabalho de percorrer ruas dos bairros periféricos de qualquer cidade brasileira vai verificar que famílias se postam nas calçadas durante a madrugada. Estranho que isso ocorra coincidentemente na noite que antecede qualquer eleição. A oferta de donativos e a entrega de dinheiro é feita sem nenhum receio da lei.

Os órgãos com competência e responsabilidade para fiscalizar o pleito devem estar atentos para que essa declaração de que “eleições se decidem na véspera” não se torne mais uma vez verdadeira.

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