Outubro/1968: A dissolução da passeata

 

Ainda que a passeata estivesse programada para as dezesseis horas  o centro da cidade amanhecia o dia guarnecido por forte contingente policial, numa demonstração clara de que o governo não admitiria a sua realização.

O Reitor da UFPb, Guilardo Martins, resolveu decretar recesso por três dias na intenção de  “contribuir para o alivio das tensões e clima emocional”, conforme colocou em nota divulgada na imprensa.

De qualquer forma nas primeiras horas da tarde o adro da Catedral Metropolitana começava a ganhar um grande numero de manifestantes, com a participação dos estudantes, membros do clero, artistas, intelectuais, mães de família e lideranças sindicais.

Tropas da Polícia Militar, aproximadamente quinhentos soldados, bem como agentes do DOPS e da Polícia Federal, com apoio do exército, se postavam nas principais avenidas do centro de João Pessoa, em especial nas localidades próximas à Catedral. Fortemente armados com cassetetes, escudos e até metralhadoras,  se posicionavam ostensivamente de forma a inibir quem chegava para participar da manifestação pública. O Ponto de Cem Réis foi esvaziado de veiculos para melhor locomoção das viaturas policiais.

Em seus discursos iniciais os líderes estudantis, Everardo Queiroz, presidente do DCE, e Hélcio Lima, presidente da UEEP, conclamavam aos que se faziam presentes ao local do ato público realizarem  “uma passeata pacífica de protesto contra a repressão policial e pelos nossos direitos de cidadãos a qualquer custo”. Exortaram os policiais a se manterem distantes do movimento, “empreendido por aqueles que também são oprimidos pelo mesmo governo que lhes paga um salário de fome, que não permite sequer que eduquem seus filhos condignamente”. Apelo que não sensibilizou os soldados que se mantinham em suas posições, prontos para agirem com o objetivo de evitar a realização da passerata.

Na aglomeração já se avistavam várias faixas e cartazes condenando a violência que vinha sendo usada em todo o país contra os estudantes. Em alguns postes da Avenida Geral Osório, afixaram cartazes com fotos de Che Guevara. Uma das faixas defendia a instalação de um governo revolucionário. Bandeiras da UNE eram conduzidas por diversos estudantes.

No horário marcado deram início a marcha programada, rumando pela Avenida General Osório em direção ao Ponto de Cem Réis, até que foram barrados pelos contingentes policiais, com quem entraram em confronto, em frente à Biblioteca Estadual. Os  soldados apreenderam as faixas, bandeiras e cartazes conduzidos pelos estudantes, agredindo os manifestantes. O ataque policial provocou correrias. Cerca de dez estudantes ficaram feridos, um deles à bala, e foram encaminhados ao Hospital do Promnto Socorro, onde receberam atendimento médico. O professor Otacílio de Queiroz, pai do presidente do DCE, que observava à distância, na rua Miguel Couto,  foi espancado pelos soldados, sendo socorrido por populares e encaminhado ao hospital onde recebeu seis pontos na cabeça.

Dispersados num primeiro momento, os estudantes voltaram a se aglomerar na Praça Dom Ulrico (praça do Bispo). Lá o ex-presidente do DCE, José Ferreira da Silva, falou em cima de um banco da praça, até que novamente os policiais chegaram usando da violência e atirando para o ar. Alguns manifestantes se refugiaram no Palácio Episcopal, enquanto outros se protegiam em residências particulares das imediações. Fotógrafos tiveram seu equipamento de trabalho destruido. A universitária Lourdes Meira, da FAFI, alcançada por um grupo de soldados, foi agredida a cacetadas, saindo ferida com várias escoriações.

Houve ainda uma última tentativa de realizarem um comício relâmpago na Lagoa, mas foram dispersados pelos policiais.

Do incidente sairam feridos, além do professor Otacílio Queiroz e a universitária  Lourdes Meira, o operário Gilberto Lima, e os estudantes, Lindolfo Sousa, José Adroaldo Queiroz, Lindolfo Bezerra, Carlos Augusto di Pace, Marcondi de Sousa (que levou um tiro no ante braço), Wellington Russel Pereira, Humberto Jerônimo e Agamenon Falcão.

Portanto, novamente, o centro da Capital se transformava numa praça de guerra, com os policiais espancando os manifestantes para impedir que fizessem o ato público planejado.

* esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968
* comentários e informações adicionais devem ser encaminhados parab o email: iurleitao@hotmail.com

 

 

 

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