A prisão dos estudantes que participavam do frustrado Congresso da UNE que se realizava no município de Ibiuna, em São Paulo, agravou a crise política no país, com a juventude brasileira mobilizada em solidariedade aos colegas detidos, numa sucessão de manifestações públicas que inquietavam a Nação, em razão da forte repressão que o governo militar impunha para inibir o movimento estudantil.
Nos jornais comentaristas políticos emitiam opiniões, na maioria das vezes, simpáticas ao posicionamento dos estudantes, em que pese a censura que o regime vinha adotando junto à mídia. O Correio da Paraiba, que tinha como seu diretor o jornalista Soares Madruga, em editorial da edição do dia dezessete de outubro, trazia uma análise interessante do quadro político que vivia o país nesse confronto permanente entre governo e estudantes.
“Não basta constatar que o problema estudantil é um problema universal. O fato dele adquirir tal generalidade não nos exime de nossas responsabilidades; apenas comprova e acentua a sua gravidade.
O corolário desse ponto de vista é o tratamento do problema estudantil como se fora uma excrescência social. Não demora que a juventude estudiosa passe a ser considerada como o inimigo dos nossos tempos, contra o qual é lícito adotar todos os meios de repressão disponíveis.
Cremos que a generalidade da chamada crise estudantil apenas denuncia, de um lado, a inadequação em acompanhar as rápidas mudanças qualitativas dos nossos tempos, e de outro, a crescente conscientização da juventude universitária, que luta resolutamente por exercer o papel que lhe cabe na direção da sociedade.
Não teremos muito sucesso em negar a essa juventude a sua força, porque seria negar a própria essência do desenvolvimento cultural do homem. Ela é a vanguarda do pensamento, da ciência do idealismo renovador. Suas posições aparentemente inaceitáveis resultam de uma maior aptidão para compreender uma civilização que adquiriu muita velocidade, que avançou com grande rapidez. O fato de não as aceitarmos é conseqüência de nossa incapacidade de percebermos essas transformações e acompanharmos seu ritmo.
Trata-se pois de um conflito de gerações, aguçado pela natureza dos problemas que a civilização tem de resolver nesse momento decisivo da história. Nesse conflito, por mais drástico que sejam os meios que usamos para reprimi-los, os jovens vencerão com certeza”.
Nessa data o Chefe da Casa Civil do Governo do Estado, Edme Tavares, convocava a imprensa para informar que havia recebido telegrama do governador João Agripino dando conta de que teria conseguido libertar os estudantes paraibanos presos e determinava ao seu secretário de segurança pública, brigadeiro Firmino Ayres, viajasse imediatamente à capital paulista para providenciar o retorno deles à Paraiba. Ao falar com os jornalistas, Edme Tavares, afirmou: “O governador João Agripino cumpriu, portanto, o que prometeu em Campina Grande, falando em praça pública, dando assim uma demonstração do seu interesse pelo povo da Paraíba”.
Enquanto o governo anunciava a libertação dos estudantes, os universitários pessoenses, em Assembléia Geral, realizada nesse dia, na FAFI – Faculdade de Filosofia, decidiram decretar greve geral por quarenta e oito horas, oportunidade em que divulgaram nota com outras decisões tomadas: 1) repudiar o oportunismo dos políticos que, aproveitando a prisão dos colegas, tentam ganhar a opinião pública; 2) rebater as notícias dadas pelo governo, mostrando ao povo que, na realidade, os colegas vêm recambiados, transferidos como prisioneiros e que os principais líderes não serão soltos; 3) levar a todas as camadas da população as denúncias, convidando todo o povo para uma manifestação popular.
O presidente da UEEP – União dos Estudantes do Estado da Paraiba, Hélcio Lima de Oliveira, em declarações à imprensa ressaltou que “a luta vai prosseguir com os estudantes se preparando desta vez para enfrentar a repressão policial”. A noite, quando percorria as salas de aula da Faculdade de Direito, acompanhado pelo presidente do Diretório Acadêmico, Jonas Gadelha, convocando os alunos daquela escola para se incorporarem às manifestações de protesto, foi convidado pelo diretor Hélio Soares, a retirar-se da faculdade.
As lideranças estudantis teimavam em contrariar as informações do governo do estado, procurando convencer a população paraibana de que seus colegas não voltariam em liberdade, e que continuariam aqui à disposição das autoridades. Diziam que “alguns poucos, cujos pais são políticos ou estão ligados à administração estadual serão soltos, mas por média política, exclusivamente. Mas os líderes ficarão presos e disso temos certeza”.
O secretário Edme Tavares reagiu imediatamente declarando “são totalmente infundadas as notícias veiculadas por alguns setores estudantis, segundo as quais os universitários presos continuariam presos na Paraíba. Os estudantes chegarão em total liberdade”.
• Esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968
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