O convite formulado pelo governador João Agripino ao presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal da Paraíba para participar, como representante dos universitários, do grupo de trabalho que apresentaria as sugestões da Paraíba à reforma universitária que o Ministério da Educação estava elaborando, foi recusado.
José Ferreira, presidente do DCE, afirmou que a recusa era uma atitude de coerência dos estudantes. Justificando a decisão afirmou: “ Querer estudar uma reforma no espaço de tempo exíguo proposto pelas cúpulas é pretender dissimula-la e por isso os estudantes vêm se recusando a participar dos grupos de trabalho para o encaminhamento desses estudos preliminares. Assim agindo os estudantes são coerentes, tendo em vista que muitas dessas chamadas reformas já foram feitas neste país, sem que contribuíssem para o desenvolvimento da universidade brasileira.
Num país subdesenvolvido como é o nosso, onde a filosofia do governo é a de que a educação representa gastos e não investimento, só nos leva a perceber que estas tentativas de reformas tem a finalidade de aplacar o movimento estudantil”.
O vice-presidente, universitário Francisco Barreto, também se manifestou a respeito:
“Uma reforma universitária proposta ocasionalmente pelo governo não trará resultados satisfatórios em virtude de não tratar das soluções dos problemas básicos e estruturais da universidade brasileira. Entendemos que as pretensas reformas surgiram em função de uma tentativa governamental de fornecer paliativos aos nossos problemas educacionais graves e urgentes.
Acreditamos apenas nas reformas, quer sejam educacionais ou não, quando propõem uma reformulação integral e não parcial, estrutural e não ocasional, bem como repudiamos a presença de soluções com o fito de promoção governamental perante a opinião pública”.
A negativa dos estudantes ao convite do governo recebeu apoio também de alguns professores. Entre eles o professor Manoel Cavalcanti, catedrático da cadeira de Psicologia da Faculdade de Filosofia. Em declarações à imprensa paraibana, assim se manifestou:
“Em vez de apresentar-se coator, punitivo e violento, devia o governo, pelo contrário, mostrar-se pronto a resolver, de modo concreto, o problema do ensino ou a criação de melhores condições de vida e sobrevivência pedagógica no país.
A crise do ensino agravou-se de tal maneira, que o estudante, descontente, chega a recusar em tomar parte até de um grupo de trabalho.
Mister se faz aos homens do governo manipulem técnica mais simpática, persuasiva, sugestiva, honesta e autêntica, a fim de que a juventude restaure a confiança perdida, em lugar de firmar-se na incredulidade, no desprezo e no desespero.
Para evitar o recrudescimento da situação já criada pela atitude decidida e intrépida da juventude, deverá o governo agir com compreensão, servindo melhor a todos sob forma de exemplar assistência ao poder jovem.
Aumenta a urgência da reforma quando, sobremaneira, se chega à situação crítica de desorganização e de depauperamento da vida escolar, qual a que temos de norte a sul do Brasil”.
Ainda que entendida como coerente pelas lideranças estudantis a recusa ao convite do governador, muitos se surpreenderam com a decisão por considera-la contraditória. Ora se os estudantes reivindicavam diálogo, participação nos debates, não teria sentido negarem-se a integrar um grupo de trabalho que se propunha a contribuir na formatação do projeto da reforma universitária, mesmo que suas posições fossem voto vencido.
• esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968
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