Abril/1968: Críticas, defesa e notas de solidariedade

O primeiro dia útil da semana seguinte aos distúrbios provocados pelo enfrentamento entre estudantes e policiais, foi ocupado por manifestações de políticos em relação ao assunto, principalmente em reação ao pronunciamento do Governador João Agripino no domingo, dia sete de abril, em cadeia de rádio.

Na Assembléia Legislativa o deputado Ronaldo da Cunha Lima, em discurso na tribuna daquela casa, declarou:
“Quer dizer que o Sr. João Agripino acha condenável a polícia da Guanabara espancar os estudantes, entretanto acha certo que na Paraíba proceda da mesma maneira. O governo começou a errar quando proibia as manifestações dos estudantes e continuou errando, mandando a polícia para as ruas e não tomando providências quando tiroteava os manifestantes. E depois vem através de um palavreado cansativo tentar justificar o erro, arcando com a responsabilidade dos acontecimentos, como se isso lhe tirasse a culpa de tudo o que aconteceu”.

O deputado Miranda Freire também se pronunciou a respeito:
“Não posso compreender como o governador se desculpa de si mesmo pelas arbitrariedades praticadas pelos policiais, quando ele deveria era garantir os estudantes, como fizeram os governadores de São Paulo e do Maranhão”.

Continuando com sua posição de dissidência o deputado Francisco Souto, da ARENA, assim se manifestou:
“Sinto que neste momento em que no Brasil o clima policialesco impera, somente as vozes da mocidade poderão se levantar contra as arbitrariedades em que estamos vivendo”.

Em defesa do governo, o deputado Sílvio Porto, líder da situação, afirmou:
“Os conflitos da Paraíba foram mais uma decorrência externa do que um desastre local. Houve um caudal de acontecimentos em que até a Paraíba foi envolvida e com ela os estudantes e a polícia”.

Ainda em defesa do governo, o deputado Otávio Maia rebateu as críticas dos parlamentares da oposição, proclamando:
“É justo cantar louvores à mocidade e ao soldado. Mas na crise em que envolveu estudantes e soldados, ambos erraram. A juventude entusiasmada protestando contra a morte de um companheiro merece a solidariedade de todos. Mas não quando esses protestos descaminham para a anarquia, o desrespeito às autoridades e a ameaça à coisa pública. A polícia quando manteve a ordem merece a solidariedade de todos. E quando comete violências e persegue estudantes, tem também o protesto de todos. O que houve na Paraíba foi um episódio infeliz e lastimável.

Mas enquanto isso, que os homens de bom senso não envolvam o governador do Estado como mandante das violências. Não é de sua formação, não é sequer do seu interesse político. Se o governador diz que assume a responsabilidade dos fatos, não quer dizer que ele esteja se incriminando, endossando os abusos praticados pela polícia. Ele assume a responsabilidade porque é o chefe do governo, logo o responsável pelo Estado. A Paraíba não aceitaria um chefe de governo que não se responsabilizasse pelos atos de sua administração”.

O MDB – Movimento Democrático Brasileiro, partido da oposição, divulgou nota oficial nos seguintes termos:
“O MDB, seção deste Estado, cumpre o dever de levar ao conhecimento do povo paraibano a posição assumida por este partido com relação aos últimos acontecimentos verificados em nosso Estado, mais particularmente na nossa Capital, condenando com veemência a atitude brutal, violenta e antidemocrática, da polícia estadual, abatendo com tiros estudantes em plena via pública”,

A nota foi assinada pelos deputados: Mário Silveira, presidente do MDB; Ronaldo Cunha Lima, Inácio Pedrosa, Sebastião Calixto, Antônio de Paiva Gadelha, Orlando Cavalcante, Azuil Arruda, José Fernandes de Lima, José Maranhão, Luiz Gonzaga de Miranda Freire, José Gayoso, Aluisio Pereira, José Soares de Figueiredo, João Lira e Laércio Pires.

Na área cultural a manifestação partiu dos artistas e intelectuais paraibanos, que por intermédio dos seus grupos e entidades representativas, hipotecaram “integral solidariedade ao movimento estudantil contrário às arbitrariedades de caráter ditatorial que vêm se verificando em todo o país. A exemplo dos seus colegas de São Paulo e da Guanabara, afirmam sua posição de protesto diante das ocorrências provocadas pela repressão policialesca. Também não podemos ficar omissos diante da selvageria que atingiu, em forma de balas, três estudantes menores paraibanos. Assim ficamos conscientemente, ao lado do povo que mostra sua completa insatisfação diante de tais acontecimentos. Confirma-se o despreparo das autoridades diante das coisas da cultura e da educação”.

• esse texto faz parte da série COMO A PARAÍBA VIVEU O ANO DE 1968.
• comentários e informações adicionais devem ser encaminhados para o elail: iurleitao@hotmail.com
 

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