MANAIRA / JPA – Só quem se depara com um show ao vivo – de olho próximo, mais do que em tele processamento em vídeo (até TV), pode dimensionar o tamanho do fascínio, da magia que Roberto Carlos continua nutrindo entre o público de muitas gerações, inteiramente encantadas, mesmo com a forma conhecida, manjada, repisada, mas sempre diferente quando cantada pelo Rei.
Nesta quinta-feira de tempo nublado e calor na política partidária, o show de Roberto, mais do que refrescar as cucas, mexer absolutamente nada na conjuntura, serviu para consagrar a Domus Hall como requintada e elogiada Casa de Espetáculos da capital paraibana, servindo até para transportar um monte de gente para uma viagem cúmplice no tempo sentimental, onde só valia sentir emoções.
Como se previa, o passaporte para esse mergulho no túnel do tempo foi a saudade misturada com desejo de encanto e lembranças repostas no juízo das pessoas pelo repertório conhecido do mais importante artista de todos os tempos das Musica Popular Brasileira.
Mas, para mulheres enlouquecidas e marmanjos sisudos (mesmo também contidos fãs do Rei) nada mais reconfortador do que o charme, o balanço maneiro, as mesmas palavras de ternura proferidas pelo misto de cantador/amor e feiticeiro quando, por modo pensado, enlouquece a todos pelo repertório exageradamente forjado de muita saudade.
Roberto e sua performance, se bem comparando, nasceu para desconsertar a dor, lapidá-la vez em quando, reproduzir os sentimentos nu dos apaixonados e mexer fortemente com a consciência dos enfeitiçados, a partir do sopro das melodias e arranjos enebriantes para qualquer ouvido disposto a se entregar à canção de amor e dor, basta se transportar no tempo e na alternância.
Penso que, de tantos astros de alto valor humano na valorização de nossa música brasileira, só Chico Buarque mais do que qualquer outro gênio posto neste momento – se Caetano, Gil, Djavan, etc- chega perto e consegue intuir entre nós uma forma encantadora tão vasta quanto ao do Rei, mesmo que na retórica “ buarquiana” haja mais jogo de palavras movido a discurso ideológico e contestador, algo que não combina com a praia sentimental de Roberto.
Mas, quando se quer pronunciar o carinho humano de um show sempre espetacular, pouco importa se na hora S, do show em si, muitas das pessoas queiram apenas se entregar à saudade ou êxtase emocional.
O fato é que, não tem jeito, se a parada for com Roberto como condutor das emoções, saia da frente, se permita inteiramente porque o artista é mágico e encantador de tamanha força que ninguém consegue ignorar a saudade do que já se foi ou era e comumente se entrega ao sentimento movido por suas canções..
Roberto continua bálsamo, um homem nascido com dom divino de espalhar muitas emoções como poucos na terra. Por isso continua inimitável e imprescindível.