OPINIÃO: ‘Desigualdades salariais entre homens e mulheres: o que comemorar no oito de março?’, por Márcia Batista da Fonseca

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“Este é o mundo dos homens, mas não seria nada, nada sem uma mulher”, esta frase de James Brown & Betty Jean Newsome (1966) é bastante reflexiva cada vez que novos nomes são dados as diversas formas de silenciamento da mulher. Em tempos de “Gaslighting”, “Mansplaining”, “Manterrupting” e “Bropriating” há uma verdadeira sofisticação de estratégias para reduzir a mulher a papéis de subordinação na sociedade. Historicamente existem avanços profundos, na esfera econômica, política e social desde a comemoração oficial do Dia Internacional da Mulher, mas, parece que enquanto este dia precisar ser celebrado haverá desigualdades entre mulheres e homens que precisarão ser combatidas.

O dia oito de março foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975 como sendo o Dia Internacional da Mulher. Entretanto, remota a 08 de março de 1857, em New York, Estados Unidos, o primeiro movimento de mulheres na busca de melhores condições de trabalho e salários. A partir do fortalecimento do movimento sindical, início do século XX, demandas por melhores condições de trabalho se tornaram constantes e em 28 de fevereiro de 1909, novamente em Nova York, em torno de 15 mil mulheres marcharam nas ruas pelo fim do trabalho infantil, melhores salários, redução da jornada. O resultado desta ação se expandiu pelo velho mundo trazendo como consequência a criação do Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras, proposto em 1910.

No ano seguinte, em 1911, em 25 de março, 146 pessoas, a maioria mulheres, perderam suas vidas no incêndio da Companhia de Blusas Triangle, também em New York, trabalhando em péssimas condições. Deste martírio, resultaram novos conceitos de responsabilidade social e legislação que ajudaram a melhorar as condições de trabalho no mundo. No Brasil, este caso teve repercussão, mas, os movimentos em torno de melhores condições de vida e trabalho para mulheres só começaram a aparecer na década posterior, nos anos 1920.

Destaque-se que a literatura sindical de meados século XX mostra que as manifestações sindicais foram feitas por melhores condições de trabalho, mas, não por igualdade salarial entre homens e mulheres, em se considerando a realização das mesmas tarefas, sendo este, um desafio econômico, presente e atual, no século XXI. Para exemplificar a situação, observe-se que dentre os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na Ásia encontram-se as maiores discrepâncias salarias entre homens e mulheres, um trabalhador Sul Coreano ganha 36,7% e um japonês ganha 25,7% a mais que as colegas trabalhadoras, realizando a mesma tarefa laboral.

Mulheres no Brasil, apesar de mais escolarizadas que os homens, 23% das mulheres e 18% dos homens têm ensino superior completo, em 2018, ganharam 20,5% a menos que homens, realizando as mesmas funções, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma das explicações para este fato seria o baixo número de mulheres a ocupar cargos de chefia. Sobre isso, a Pesquisa Nacional por Amostragem e Domicilio (PNAD), mostra que 37% das mulheres, no setor privado e apenas 21,7% das mulheres no setor público, chegam aos cargos de chefia nas empresas.

Por que a preocupação com desigualdades salariais provocadas por questões de gênero é necessária? Em 2018 o Banco Mundial lançou um estudo realizado em 141 países sobre a perda de riqueza de capital humano devido a assimetrias salariais entre gênero. Os resultados apontaram para uma perda estimada em 160 trilhões de dólares, ou seja, caso não houvesse assimetrias nas remunerações de homens e mulheres, a riqueza poderia aumentar em 14% no mundo. Bertay, Dordevic, Sever (2018), em estudo ainda preliminar, feito para países emergentes, mostram que quanto maior a igualdade de gênero, maior o crescimento econômico, pois indústrias que são tipicamente dominadas por mulheres crescem mais rapidamente em países com maior igualdade de gênero.

No Brasil, a literatura econômica tem admitido como determinantes de diferenças salariais entre gênero, a escolaridade, a experiência, as regiões geográficas, os cargos, o tipo de ocupação, a raça e a idade. Gomes e Sousa (2019) mostraram em estudo recente que no Brasil o fato de o indivíduo ser homem e de cor branca resultou em maior remuneração na comparação com as mulheres e não brancos, independentemente da região ou setor econômico no país.

Percebe-se que apesar dos avanços, na sociedade do século XXI, mulheres ainda lutam por sua liberdade, no sentido de não sentir medo por sua existência. Violência física, psicológica e a “violência econômica” que desqualifica o trabalho nos termos de uma remuneração injusta, são elementos que precisam ser combatidos objetivamente, pois, desigualdades provocadas por questões de gênero são entraves para o crescimento econômico. O recente oito de março no Brasil e no mundo foi cercado de manifestações pelo fim destas desigualdades. Espera-se que oportunidades equânimes para agentes econômicos, independente do gênero, possam desenvolver seu potencial e estejam na base para o desenvolvimento econômico da sociedade.

*O artigo semanal é resultado de uma parceria entre o Portal WSCOM e o Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Márcia Batista da Fonseca é professora associada do Departamento de Economia.

Escrito por: Edney Oliveira

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