A primeira captação de coração no Sertão Paraibano, um marco na história da saúde pública do estado, aconteceu nesta sexta-feira (5). O procedimento foi realizado pela Central Estadual de Transplantes, no Hospital Regional de Patos, através de uma doação de uma paciente de 40 anos, vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Também foram doados o fígado, os rins e as córneas, beneficiando seis pacientes da lista de espera na Paraíba e em Pernambuco.
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O ato, pioneiro na região, marca a ampliação do serviço da Central Estadual de Transplantes, o aumento no número das doações de órgãos na Paraíba, e o avanço da saúde no interior do estado. Até então, procedimentos como este só eram realizados em Campina Grande e João Pessoa. A partir da realização de cursos para qualificação da equipe que formou a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), em maio de 2024, foi que o serviço passou a ter a possibilidade de se tornar um centro doador. Outro fator determinante para sair do eixo Campina-João Pessoa foi a aquisição de duas aeronaves pelo Governo do Estado, como explica a diretora da Central, Rafaela Dias.
“A doação de hoje é um marco, que só foi possível graças a um trabalho dedicado de construção, do que hoje é realidade. Nós vimos no Regional de Patos o potencial de se transformar em uma unidade doadora e resolvemos investir, tornando o que era só uma possibilidade em fato concreto. Mas não fizemos isso sozinhos. O apoio da Secretaria de Estado da Saúde e do Governo do Estado, com a disponibilização das aeronaves, foi essencial. Sem essa facilitação não seria viável devido às grandes distâncias. Hoje estamos começando a colher os frutos,” destacou.
Essa foi a segunda captação registrada no sertão paraibano. A primeira ocorreu no último mês de abril, quando um doador de 24 anos, doou fígado, rins e córneas. Com esta doação, já são nove corações doados em 2025 na Paraíba.
A logística de transporte contou com o apoio da aeronave do Governo da Paraíba, por meio das equipes do Corpo de Bombeiros e do Grupo de Resgate Aeromédico (Grame), que se deslocaram de João Pessoa para Patos, e garantiram agilidade na remoção da equipe médica e no encaminhamento dos órgãos para os centros transplantadores.
A diretora da Central ainda enfatizou a preparação da equipe e a logística adotada para possibilitar a doação. “Essa primeira captação de coração no Sertão mostra a força da nossa rede hospitalar e da solidariedade das famílias paraibanas, que transformam a dor em amor e salvam muitas vidas. Também deixo aqui o nosso reconhecimento ao trabalho de todos os profissionais envolvidos no processo, sendo essenciais para tudo dar certo,” destacou.
Após o diagnóstico de morte encefálica, realizado sob rigoroso protocolo adotado pela equipe médica, a família decidiu pela doação dos órgãos. O gesto solidário atendeu ao desejo expresso em vida pela doadora. “Ela falava que achava isso um grande gesto de amor ao próximo e ela era uma pessoa tão boa que, certamente, jamais se negaria a ajudar alguém, por isso decidimos pela doação e, apesar da imensa tristeza de perder minha mãe, minha parceira de vida, estou feliz em poder ajudar outras pessoas”, afirmou a filha Maria Vitória.
O irmão da doadora falou sobre a decisão da família em autorizar a doação. “A dor é grande, mas maior ainda é a alegria da gente e vai saber que ela está vivendo no outro corpo de outra pessoa. A família hoje está muito alegre com isso também,” disse José Fernandes.
Antes de iniciar a cirurgia, a doadora e familiares foram homenageados com o ‘cortejo da vida’, um corredor humano formado entre a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o centro cirúrgico, acompanhado de muitos aplausos, em forma de reconhecimento pelo gesto.
Em 2025, já foram contabilizadas 28 doações de múltiplos órgãos e tecidos e 150 transplantes. Ainda aguardam por uma doação, 817 pessoas.