Antes pediam intervenção militar; agora, solicitam intervenção americana. Em ambos os casos, demonstram, de forma clara, posturas antidemocráticas e impatrióticas. Até o dia 8 de janeiro de 2023, manifestantes liderados por políticos da extrema-direita reivindicavam a tomada de poder pelos militares. Eram os saudosistas da ditadura que vigorou no país por 21 anos, a partir do golpe de 1964. Ao perceberem que a cúpula das Forças Armadas não aceitaria embarcar nessa “barca furada”, resolveram voltar seus apelos para o governo dos Estados Unidos.
Renasceu, então, a esperança com a possibilidade de retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, dada sua notória inclinação para atacar a democracia, os direitos humanos, a diversidade cultural, a independência do Judiciário e a soberania de países que julga poder tratar como subordinados ao imperialismo americano. É importante lembrar que o ex-presidente brasileiro, derrotado nas eleições de 2022, sempre demonstrou explicitamente sua devoção aos Estados Unidos, em detrimento do próprio país — chegando, inclusive, a bater continência à bandeira norte-americana e a proferir um absurdo e deprimente “I love you” ao chefe de Estado daquele país.
Com a percepção de que a intervenção militar era inviável, passaram a desfraldar a bandeira da intervenção americana — atitude submissa e que configura verdadeiro ato de lesa-pátria. Um deputado federal, filho do ex-presidente, chegou a sair do Brasil com o propósito de articular sanções contra o país, oferecendo, em troca, a rendição aos interesses do imperialismo norte-americano. O argumento utilizado é o mesmo de 1964: o combate ao comunismo. No entanto, sabe-se que o verdadeiro objetivo é pressionar o Supremo Tribunal Federal a anular os processos contra o ex-presidente brasileiro, aliado ideológico de Trump, acusado de tentativa de golpe de Estado.
A tentativa de golpe não cessou: apenas mudou de forma. Agora, busca-se corroer as instituições democráticas por dentro, com o apoio dos Estados Unidos, visando à instalação de um governo autoritário e despótico. O plano é explorar o ímpeto de Trump em atacar a democracia, aproveitando-se da ascensão da extrema-direita em vários países ocidentais. O espectro que hoje nos ameaça não é o comunismo, e sim o retorno da tirania, que destrói os valores democráticos.
As recentes medidas tarifárias e interferências políticas por parte do presidente dos EUA têm mobilizado diversos setores da sociedade brasileira em defesa da soberania nacional, de maneira suprapartidária e unitária. O mais lamentável é constatar a existência de brasileiros comprometidos com essa tentativa estrangeira de intervir nos assuntos internos do país — como, por exemplo, interferir nos julgamentos do ex-presidente, utilizando essa pauta como instrumento de retaliação ao Brasil.
Felizmente, as instituições republicanas brasileiras têm demonstrado firmeza e sinalizado que não se curvarão a pressões externas. Afinal, soberania não se negocia — se exerce.