O Brasil tem um trunfo importante para usar como moeda de barganha nesta guerra comercial deflagrada por Donald Trump: os Estados Unidos precisam reduzir sua dependência dos minerais estratégicos da China, razão pela qual têm manifestado interesse nas nossas chamadas “terras raras”.
Sabemos que o tarifaço anunciado pelo governo norte-americano não obedece exclusivamente a critérios políticos, como deixou transparecer na carta enviada ao presidente Lula. Os EUA reconhecem que o Brasil é um parceiro com condições de ocupar mais espaço no cenário geopolítico atual. Em recente reunião com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), o encarregado de negócios da embaixada norte-americana em Brasília, Gabriel Escobar, demonstrou interesse nos MECs — minerais críticos e estratégicos — do Brasil. Esse interesse pode, portanto, ser uma das cartas a serem colocadas na mesa de negociação com os norte-americanos, no intuito de reverter as tarifas impostas aos produtos brasileiros.
Ao tomar conhecimento desse interesse, o presidente Lula foi enfático ao afirmar que não permitirá interferência estrangeira sobre como o Brasil deve explorar seus minerais. Declarou: “Temos todo o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro.”
Diante disso, decidiu lançar a Política Nacional de Minerais Críticos, com as seguintes diretrizes: fortalecimento do mapeamento geológico; apoio à pesquisa, inovação e processamento; parcerias com estados e municípios; e estímulo à atração de investimentos privados. Dessa forma, o governo busca preservar o patrimônio mineral do país, ao mesmo tempo em que fortalece sua autonomia estratégica no cenário internacional. Lula compreendeu que essa discussão passa a ser uma das peças centrais na negociação com os norte-americanos neste imbróglio comercial.
Para entender a relevância dessa questão, é preciso compreender por que as “terras raras” são tão cobiçadas. Elas contêm matérias-primas essenciais para a fabricação de tecnologias de ponta, como carros elétricos, painéis solares, equipamentos militares avançados e smartphones. Donald Trump logo enxergou a importância desse mapa mineral. As terras raras são o que se pode chamar de “vitaminas da indústria”. O Brasil detém a segunda maior reserva de terras raras do planeta, ficando atrás apenas da China. Esse trunfo, se bem utilizado, pode gerar bons resultados para o Brasil, que se posiciona como um fornecedor estratégico, com voz ativa em acordos bilaterais e multilaterais.
A geopolítica moderna demonstra que países com acesso seguro a recursos estratégicos — capazes de influenciar decisões econômicas, comerciais e até ambientais — ganham poder de barganha. O Brasil tem potencial para atrair mercados que buscam diversificar seus fornecedores. Nossas reservas minerais podem ser colocadas como contrapartida em negociações comerciais, desde que sejam estabelecidas condições justas em temas como propriedade intelectual, compras governamentais e exportações agrícolas.
A venda dos nossos minerais críticos não pode ser feita de forma impulsiva, nem sob pressão externa. É um ativo valioso que deve ser tratado com visão estratégica, sob o controle soberano do povo brasileiro.
*Esse texto foi escrito ontem, antes da comunicação do presidente dos EUA transformando o “tarifaço ” em “tarfinho”, excluindo em torno de 700 produtos de exportação brasileiros. Lula não precisou se agachar diante da prepotência de Trump, mantendo-se altivo em defesa da soberania nacional. E as “terras raras” são patrimônio nacional.