A presidente Dilma Rousseff disse nesta quarta-feira (18), durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, que não se manifestará sobre o eventual interesse do ex-agente de inteligência norte-americano Edward Snowden de obter asilo permanente no Brasil.
Acusado de vazar informações sigilosas de segurança dos Estados Unidos está asilado temporariamente na Rússia. As informações do ex-agente levaram à revelação de que a presidente Dilma Rousseff, ministros, assessores e a Petrobras foram alvo de espionagem da NSA, a agência de inteligência dos EUA.
Nesta quarta, Snowden divulgou carta pública na qual sugere que deseja obter asilo permanente, para que possa continuar a fazer revelações. “Até que um país conceda asilo político permanente, o governo dos EUA vai continuar a interferir na minha capacidade de falar’, disse o ex-agente.
Dilma afirmou que não houve solicitação de asilo para o Brasil e disse que não interpreta cartas.
“A nós não foi encaminhado nada, e eu me dou completamente o direito de não me manifestar sobre o que não foi encaminhado. Vou me manifestar como? Não me encaminharam nada, não me pediram nada e, mais do que isso, eu não interpreto cartas de ninguém. Não é minha missão”, declarou. “Eu não acho que o governo brasileiro tem que se manifestar sobre algo de um indivíduo que não deixa claro, não dirigiu nada para nós”, afirmou.
Nesta terça, ao jornal ‘O Globo’, o jornalista Glenn Greenwald, que divulgou as primeiras denúncias de Snowden, negou que o americano tenha pedido asilo no Brasil. Segundo ele, a carta foi mal interpretada.
“Snowden é contatado com frequência pelas autoridades brasileiras para colaborar nas investigações sobre a espionagem no país e ele quis explicar por que não poderia ajudar. Em nenhum momento ele pede um novo asilo, isso é completamente errado. Basta ler o conteúdo da carta”, declarou ao jornal.
Carta
Nesta terça-feira, o jornal “Folha de S. Paulo” publicou uma carta de Snowden, na qual o ex-técnico da CIA afirmava que a Casa Branca continuará interferindo na sua “capacidade de falar” até que ele receba o asilo permanente em algum país, e que o governo norte-americano “vem trabalhando arduamente” para limitar suas declarações.
Ele diz também que muitos senadores brasileiros solicitaram sua ajuda na investigação sobre a suspeita de crimes contra cidadãos brasileiros e que ele expressou sua disposição de auxiliar “quando isso for apropriado e legal”. Junto com a carta, uma petição eletrônica que visa pressionar a presidente a conceder o asilo foi publicada no site Avaaz, página que reúne ativistas e organiza abaixos-assinados.
Espionagem contra o Brasil
Em setembro, o Fantástico revelou com exclusividade, em reportagem produzida em conjunto com Greenwald, documentos classificados como ultrassecretos que mostram que a presidente Dilma Rousseff e parte de seus assessores foram alvos de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. O Fantástico também trouxe à tona documentos que comprovam que a Petrobras, a maior empresa brasileira, também foi espionada.
Irritada com a quebra de privacidade, Dilma exigiu que a Casa Branca pedisse “desculpas” pelo episódio. No entanto, apesar de ter prometido esclarecer as denúncias, o presidente Barack Obama se recusou a formalizar o pedido de desculpas. Em contrapartida, a chefe do Executivo brasileiro suspendeu viagem a Washington, em outubro.
Dilma também aproveitou seu discurso de abertura na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no final de setembro, para condenar a postura americana. Ela afirmou diante de uma plateia de chefes de Estado que as ações de espionagem dos Estados Unidos no Brasil “ferem” o direito internacional e “afrontam” os princípios que regem a relação entre os países.
Ao lado da Alemanha, que também foi alvo de espionagem, o governo do Brasil apresentou à ONU, em novembro, uma proposta que prevê regras para garantir o “direito à privacidade” na era digital. Dilma também ordenou medidas para tentar “proteger” o Brasil da espionagem virtual, entre as quais a criação de um sistema de e-mails do governo federal.