O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região anunciou que vai protocolar nesta sexta-feira (12) uma ação coletiva na Justiça pedindo a reintegração dos mais de mil funcionários demitidos recentemente pelo Itaú e indenização por dano moral. Segundo a entidade, 99% dos desligados atuavam no estado de São Paulo.
Mais de mil funcionários foram demitidos pelo banco sob justificativa de baixa produtividade. A instituição afirmou, em nota, que o grupo apresentava média de atividade digital “muito inferior” à esperada para suas funções e que os casos identificados mostravam “desvio de padrão de comportamento em relação à maioria dos colaboradores em regime híbrido, o que resulta em quebra de confiança”.
O Itaú ressaltou ainda que o sistema de monitoramento não se limita ao uso de teclado ou mouse, nem grava telas, áudios ou vídeos.(confira a íntegra da nota no final da matéria)
Para o Sindicato dos Bancários de São Paulo, a medida preocupa pelo uso de Inteligência Artificial (IA) na avaliação de desempenho e pela falta de transparência sobre o funcionamento da ferramenta.
A presidente do sindicato, Neiva Ribeiro, criticou a postura do banco. “Eles não buscaram negociação prévia com o sindicato e tentaram convencer que a culpa é dos trabalhadores. Não aceitamos isso”, disse em coletiva de imprensa.
Segundo Neiva, há muitas incertezas sobre o algoritmo utilizado para medir a produtividade. “Não sabemos como ele opera, se houve falhas, se é ético. Precisamos entender de que forma esses dados são coletados e usados”, afirmou.
Em plenária realizada na quinta-feira (11) com 387 demitidos, vários bancários disseram não conhecer os critérios de monitoramento nem quais informações eram acompanhadas pela empresa.
A presidente relatou que 86 pessoas afirmaram ter recebido premiação de desempenho pouco antes da demissão e que outros funcionários foram questionados publicamente sobre sua performance em redes como o LinkedIn, o que, segundo o sindicato, expôs os trabalhadores de maneira indevida.
Para dar suporte aos afetados, foi criada uma central de atendimento jurídico para esclarecimento de dúvidas. Além disso, uma reunião com a Comissão Nacional dos Empregados do Itaú está marcada para a próxima segunda-feira (15), seguida de uma live para atualizar os trabalhadores.
“Também vamos conversar com os 45 mil funcionários que seguem na ativa, pois eles precisam saber de que forma esse monitoramento está sendo feito e como isso pode impactar seus empregos”, completou Neiva.
Confira a nota na íntegra:
“COMUNICADO À IMPRENSA – ATIVIDADE DIGITAL NO ITAÚ UNIBANCO
Desde 2022, quando o Itaú Unibanco relançou seus pilares de cultura organizacional, a Cultura Itubers, o banco se desafiou a fazer as coisas de forma diferente. Atento ao novo cenário pós-pandemia, adotou um modelo flexível de trabalho. Hoje, 60% do quadro de colaboradores trabalha em formato híbrido ou totalmente remoto.
A premissa do novo modelo é conferir autonomia às equipes, o que exige uma confiança ampliada nos colaboradores, mas implica uma maior responsabilização pelas atitudes e escolhas individuais. O Itaú vem acompanhando os debates globais sobre a perenidade do home office ao longo dos anos e, aderente à legislação vigente, monitora o uso de seus equipamentos corporativos e programas licenciados. Esse monitoramento, expressamente previsto em políticas internas assinadas por seus colaboradores, e acordado com os sindicatos, controla eletronicamente a jornada de trabalho no home office e é essencial para garantir sua efetividade.
Ao longo de quatro meses de análises e debates profundos, que mediram a atividade em softwares corporativos em comparação com a jornada de trabalho formalizada em home office e o acúmulo de horas extras, o Itaú identificou uma minoria de colaboradores em jornadas de trabalho remoto com baixos níveis de atividade digital, sendo esse um padrão de comportamento e não situações pontuais. Alguns desses casos, os mais críticos, chegaram a patamares de 20% de atividade digital no dia – de forma sistemática, ao longo de quatro meses – e ainda assim registraram horas extras naqueles mesmos dias, sem que houvesse causa que justificasse. Um exemplo real é de uma área com 316 analistas, de cargos equiparáveis e com média de atividade digital de 72%, enquanto colaboradores desligados apresentavam entre 27 e 37% de atividade digital em quatro meses, além do uso de horas extras. Em outra estrutura, com 30 analistas com média de atividade digital de 75%, o colaborador desligado apresentou 39% de atividade, também com horas extras registradas.
A média geral de atividade digital do banco em home office é de cerca de 75%, patamar que a instituição entende como adequado, considerando sazonalidades, horas de intervalo e descanso. Assim, os casos identificados denotam desvio do padrão de comportamento em relação à maioria dos colaboradores em regime híbrido, o que resulta em quebra de confiança. É por esse motivo que foram desligados alguns colaboradores com boa avaliação de performance. Para o Itaú, essa decisão faz parte de um processo de gestão responsável e tem como objetivo preservar nossa cultura e a relação de confiança construída com clientes, colaboradores e a sociedade.
É fundamental ressaltar que o monitoramento adotado pelo Itaú não considera exclusivamente o uso de mouse ou teclado como métricas de aderência digital e respeita diretrizes previstas na LGPD, ao não realizar captura de telas, áudios ou vídeos. O programa utilizado provê indicadores robustos da atividade digital real dos mais diversos softwares licenciados para uso corporativo, inclusive chamadas em vídeo, mensageria, cursos à distância, pacote Office, dentre outros. As métricas de atividade digital consideraram 1 hora e 45 minutos de pausas diárias, além do almoço, e foram complementados por análises individualizadas, como necessidades específicas do colaborador, ausência por temas pessoais ou familiares, saúde, viagens a trabalho ou eventos externos etc. O processo, como um todo, foi rigorosamente auditado pela Diretoria de Auditoria do Itaú.
Por fim, o Itaú reforça que as medidas adotadas aprimoram o trabalho híbrido e flexível, ao dar luz à importância da autonomia responsável. Os desligamentos não têm o objetivo de redução de quadro, portanto, as contratações no banco continuam e as reposições dessas vagas serão discutidas caso a caso e dentro do cenário de cada área.
Adendo: 1. O monitoramento das atividades digitais dos colaboradores do Itaú Unibanco está respaldado por suas diversas políticas internas e assinadas por seus colaboradores não apenas em seus contratos de trabalho, como também na retirada de equipamentos corporativos, além de termos explicitamente assinados, como: Política de Monitoração de Segurança no Uso de Recursos Eletrônicos, Política de Privacidade e Proteção de Dados para Colaboradores; Política Corporativa de Segurança da Informação e Cyber Security; Política Corporativa de Prevenção à Corrupção; Política Corporativa de Prevenção a Atos Ilícitos, Política de Orientação e Aplicação de Medidas Disciplinares, dentre outros.”