Trump tenta afastar diretora do Fed e gera incerteza sobre política monetária dos EUA

A decisão contra Lisa Cook acirra dúvidas sobre a independência do banco central americano e seus efeitos no dólar, juros globais e confiança dos mercados.

Foto: Reprodução

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de afastar a diretora do Federal Reserve (Fed), Lisa Cook, tem causado apreensão no mercado financeiro. O caso traz o debate sobre a independência do banco central americano e gera incertezas quanto aos rumos da política monetária do país. Cook declarou que pretende recorrer e não quer abrir mão do cargo, o que mantém o caso em aberto e aumenta os riscos de repercussões para bancos centrais e ativos ao redor do mundo.

Segundo o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, qualquer alteração nos juros dos EUA costuma ter reflexos diretos no restante do mundo. Ele observa que o aumento das taxas americanas eleva a atratividade da renda fixa no país, considerada um porto seguro para investidores, o que atrai capital estrangeiro e fortalece o dólar.

Esse movimento, disse o economista, pressiona o comércio internacional e as commodities, encarecendo transações e aumentando a inflação global, cenário que leva bancos centrais a elevar suas próprias taxas para compensar.

O risco de cortes mais fortes, defendidos por Trump, também gera preocupação. Para o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, a economia americana não tem espaço para reduções drásticas, já que a inflação segue acima da meta de 2%. Ele alertou que, se os juros caírem de maneira forçada, o resultado poderá ser um novo surto inflacionário, obrigando o Fed a voltar a subir as taxas mais adiante.

Na prática, parte dessa tensão já se refletiu na curva dos Treasuries: os títulos de curto prazo recuaram, enquanto os de prazos mais longos apresentaram alta.

Outro ponto levantado pelo mercado é a credibilidade do banco central. O gestor de renda fixa da Inter Asset, Ian Lima, disse em entrevista que a imprevisibilidade é o maior risco de uma interferência direta do presidente: caso o Fed perca autonomia, os agentes deixam de confiar em decisões técnicas, o que pode desorganizar as expectativas.
Apesar disso, Igliori pondera que mesmo nomes indicados por Trump podem atuar de forma técnica e que há a chance de o próprio presidente desistir do afastamento, algo recorrente em sua trajetória política. Esse cenário de incertezas levou a uma reação moderada dos mercados: o dólar comercial encerrou o dia em alta de 0,34%, a R$ 5,433, enquanto o Ibovespa recuou 0,18%, fechando aos 137.771 pontos.

Para Lima, choques entre governos e bancos centrais não são novidade. No entanto, ele advertiu que, caso a interferência se concretize, “pode abalar a estrutura de uma instituição historicamente confiável”.

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