ONU e Yale apontam perdas de US$ 450 bilhões com tarifas dos EUA; impacto pode reduzir PIB americano

Relatório projeta queda de 0,8% no PIB dos EUA em dez anos, aumento de preços para consumidores e prejuízos bilionários a parceiros comerciais como China, UE, Japão e Brasil.

Segundo dados compilados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e divulgados, nesta semana, em parceria com a TINA (Consultor de Inteligência Comercial e Negociação, na tradução do inglês) e a Fundação Hinrich, as tarifas implementadas pela administração Trump devem causar perdas comerciais estimadas em US$ 450,1 bilhões, aproximadamente R$ 2,5 trilhões. O que resultaria numa redução projetada de 0,8% no PIB real dos Estados Unidos na próxima década.

Entre as regiões mais afetadas por esse cenário, destacam-se China (com déficit estimado em US$ 156,6 bilhões), União Europeia (US$ 92,6 bilhões), e Japão (US$ 27,7 bilhões). O Brasil, por sua vez, deverá perder cerca de US$ 8,7 bilhões, o que representaria uma queda de aproximadamente 2,58% nas suas exportações totais de 2024 (US$ 337 bilhões).

A ONU utilizou dados de importações de 170 países mais os 27 membros da União Europeia, excluindo o Canadá e o México dos cálculos por já terem sido afetados por tarifas anteriores.

O Laboratório de Orçamento da Universidade de Yale estima que os consumidores dos EUA estão enfrentando agora uma taxa média de imposto sobre produtos de 18,6%, nível mais alto desde 1933. Esse valor representa um aumento de 16,2 pontos percentuais desde janeiro de 2025, ou seja, é cerca de oito vezes superior ao verificado há oito meses.

A instituição projeta os efeitos dessas tarifas para os próximos anos:

Produtos de couro (como bolsas e sapatos): aumentos de 39% no curto prazo e remanescem 19% mais caros até 2028;
Vestuário comum: alta de 37% e, ainda em 2028, 18% acima do preço atual;
Têxteis: subida de 21% e 11% mais caros até 2028;
Alimentos: crescimento de 3,2% no curto prazo e 2,9% elevado no longo prazo;
Automóveis: encarecimento de 12,4% no curto prazo e 9,4% no longo, o que equivale a US$ 6 mil a mais no preço médio de um carro novo de 2024;
Metais: salto de 41% no curto prazo e elevação de 17% no longo prazo;
Safra agrícola: aumento de 31,5% até 2027 e 18% até 2028.

O relatório da Universidade de Yale avaliou que, nos próximos anos, os preços de automóveis e alimentos devem subir para os consumidores norte-americanos. A instituição explicou que a tendência ocorre porque os consumidores irão buscar substitutos no mercado interno, o que estimula a produção local. Entretanto, destacou que muitos desses bens dependem de insumos primários importados, que também estão sujeitos a tarifas mais elevadas.

O mesmo estudo calculou que os aumentos podem provocar uma redução média de US$ 2,7 mil na renda das famílias em 2025, com impacto mais severo sobre as classes de menor poder aquisitivo. Segundo as estimativas, os lares da base da pirâmide sofreriam perdas três vezes maiores que os do topo, com queda de 3,8% contra 1,1%.

Apesar desse cenário, o presidente Donald Trump tem reiterado, em entrevistas e coletivas, que as tarifas trouxeram uma arrecadação recorde. Ele ressaltou que os Estados Unidos nunca receberam tanto dinheiro como agora. De acordo com o Departamento do Tesouro, somente em julho a receita com tarifas alcançou quase US$ 30 bilhões, valor 242% superior ao registrado no mesmo mês do ano anterior.

Economistas consultados, no entanto, consideram que a política comercial adotada pelo governo vem aumentando custos para empresas e consumidores. Essa análise é reforçada tanto pelos dados da ONU quanto pelos cálculos de Yale.
O laboratório classificou o tarifaço como um “trade-off”, no qual os ganhos da indústria, que deve crescer 2,1%, seriam anulados por perdas em outros segmentos, como a construção civil (–3,6%) e a agricultura (–0,8%). O centro também prevê retração no PIB, no emprego e na folha de pagamento ao longo de 2025.

A Fundação Hinrich, que auxiliou na construção dos dados, acrescentou que tais efeitos podem adiar a expectativa de desaceleração da inflação nos Estados Unidos, aguardada pelo mercado financeiro para setembro.

O diretor de economia do laboratório de Yale e ex-assessor econômico da Casa Branca no governo Biden, Ernie Tedeschi, declarou que, em sua avaliação, as tarifas terão um impacto negativo na economia americana.
O governo Trump, por outro lado, sustenta que a combinação de cortes de impostos, novo pacote de gastos públicos e alta arrecadação tarifária deve fortalecer a economia norte-americana ao longo do tempo.

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