Na Paraíba, 61,86% das mulheres empreendedoras vivem com renda de até um salário mínimo. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A condição impacta diretamente a capacidade de investir no próprio negócio e limita as chances de obter crédito em instituições financeiras.
O tema foi destaque da Feira do Empreendedor do Sebrae, no painel “Financiando sonhos, impulsionando negócios: o papel do crédito na jornada da mulher empresária”. O evento ocorreu na última sexta-feira (22) no Centro de Convenções de Campina Grande.
O encontro reuniu representantes do setor financeiro, como a assessora de Desenvolvimento do Cooperativismo da Sicredi Evolução, Lorena Barbery, para debater alternativas inclusivas de crédito e soluções para reduzir desigualdades.
Além da baixa renda, outros obstáculos dificultam a consolidação das empreendedoras no estado. Dados do IBGE mostram que apenas 32,73% das empresas na Paraíba são lideradas por mulheres, cerca de 156,57 mil empreendedoras. Desse total, quase metade (47,91%) atua no setor de serviços, o mais vulnerável a oscilações de consumo. Além disso, 71,36% dessas mulheres não contribuem para a previdência, aumentando a exposição à instabilidade econômica.
Para a assessora de Desenvolvimento do Cooperativismo da Central Sicredi Nordeste, Joana Macêdo, os números mostram barreiras que vão além da gestão de um negócio. Ela destacou que as dificuldades no acesso a crédito e a ausência de políticas específicas para empreendedoras de baixa renda precisam ser enfrentadas.
A desigualdade de gênero também é visível no cenário nacional. Dados do Banco Central apontam que apenas 34% do crédito formal é concedido a mulheres. Estudo da Febraban mostra ainda que os valores liberados a elas costumam ser menores do que os destinados a homens, mesmo em condições semelhantes.
Já a Serasa Experian indica que, apesar de apresentarem taxas de inadimplência mais baixas, as mulheres continuam enfrentando juros mais altos e maior dificuldade para renegociar dívidas.
Nesse contexto, o cooperativismo de crédito vem buscando preencher lacunas. De acordo com Joana Macêdo, além de linhas financeiras, o modelo oferece capacitação e atendimento personalizado. Ela avalia que, ao apoiar empreendedoras, não se fortalece apenas um negócio, mas toda a comunidade.
O setor cooperativista tem ampliado iniciativas voltadas ao empreendedorismo feminino, unindo crédito e programas de formação. Apenas em 2024, o Sicredi destinou mais de R$ 14 bilhões em crédito a empresas lideradas por mulheres, além de investir em comitês de equidade de gênero e cursos de capacitação.
“O cooperativismo de crédito se diferencia por aliar produtos financeiros a impacto social, fortalecendo o acesso das mulheres a soluções sustentáveis e reduzindo desigualdades no mercado de trabalho”, completou Joana.