Geral

Economia Criativa


06/09/2011



 Yet, it is in our idleness, in our dreams, that our submerged truth, sometimes comes to the top. (Tradução livre: No entanto, é no nosso ócio, nos nossos sonhos que, nossa verdade submersa, às vezes venha à tona) Virginia Woolf

No último dia 1 de setembro, o SEBRAE Paraíba, organizou um evento sobre Economia Criativa, no Zarinha Centro de Cultura, e contou com as presenças: do Diretor do Ministério da Cultura, Luiz Antônio Gouveia de Oliveira e do Consultor Rogério Carnasciali. Presentes também à mesa, o Auditor-Fiscal Marcone Ramalho Marinho e o Contador Humberto Dias.

Na palestra do Dr. Luiz, primeiramente o Conceito de Economia Criativa:“Processo principal de um ato criativo gerador de valor simbólico, elemento central da formação de preço e que resulta em produção de riqueza cultural”

Depois, lá se foram os exemplos: O mundo de hoje, saltou da modinha para os espaços fashions; do circo com toldo e bichos acabrunhados, para o Cirque du Soleil, com toda sua diversidade cultural e seus efeitos tecnológicos, e do objeto de Iphones para o Itunes. E de slide em slide, os palestrantes passearam sobre o tema, dando-nos um click para onde está a grande diferença, ou o grande salto da economia. Não mais uma economia onde o senso comum vê somente razão e números, mas com um plus, ou o elemento do trapézio, a criatividade. Essas inovações no saber econômico tem que fruir, incluir, sustentar, criar, divergir, e claro, ter o seu preço e resultado.

E a grande pergunta veio para a mesa: O que são Indústrias Criativas? Antes da resposta formal pensei: Esse espaço aqui, de Zarinha Centro de Cultura, poderia ser um exemplo. A menina que conheci nas Lourdinas, que fundou seus cursinhos de Português, e depois deu seu pulo do gato, incrementando os elementos que o palestrante ressaltou. No seu Centro (em parceria com Francisco Fernandes), tem aulas de grego, de cinema, com cineminha próprio e pipoca (onde já tive o privilégio de palestrar); livraria com livros de arte; café, exposições; aulas com Alessio Toni – onde não só de análise sintática se faz uma oração; e até um elevador…não para subirmos aos céus, mas para que possamos ir e vir por entre acontecimentos culturais, sempre tendo como vista, cartazes de museus de obras de arte internacional, sem perder de vista os artistas locais.

Outro exemplo? O Mangai, onde de uma tapioca, Leneide e Cia já fez uma tapiocada com luxo e criatividade. O Mangai de Brasília, botou todo o plano piloto para dar um salto mortal! E qual esse elemento de que falava o palestrante? O elemento da carga simbólica; aquele que agrega valor e com isso, à uma carreira vitoriosa de lucros e diferenciais, saltando da experiência de um armarinho de linha e botão, para à moda conceitual ou de autor. Uma nova economia assim, que re-inventa o mundo.

As dificuldades dessa economia de produção cultural? Dinheiro, patrocínios. Mas para cada obstáculo uma solução, a começar pelas emendas de que os políticos podem fazer uso para o esporte ou às artes. Perguntei-me onde os deputados estão construindo esses espaços. Nem uma quadra esportiva vejo nos cantos da cidade. Mas também tem até pessoas físicas que podem colaborar. A Receita Federal estava lá, dando o caminho das Índias. Ora, se até mesmo a Coca Cola , que nem mais precisaria criar nada (o mundo todo bebe coca o dia todo, sem páreo para nenhuma outra garapa), está a todo vapor com propaganda de sustentabilidade e inclusão social, é hora mais que chegada dos pobres mortais irem atrás dos seus trapézios!

A Paraíba foi citada pelo Consultor Carnasciali, como lugar que tem todos os requisitos para um pólo turístico. Pensei na Pedra de Ingá (reclamada em crônica pelo mestre Gonzaga Rodrigues, no Jornal da Paraíba do último domingo). A Pedra vive à míngua, para deixar os dinossauros todos tristes e amuados. E as Muriçocas do Miramar assim também como todo o nosso Folia de Rua, que há mais de 20 anos penam para botar seus blocos na rua. Onde encontrar gente, dinheiro, projetos, para já há muito terem feito esses bondes descarrilarem…sem tropeços. A Ministra Ana De Holanda está no Jornal Valor do último final de semana onde cobra – Menos show e mais ação!: “Se for para o Estado se tornar paternalista e assistencialista, eu sou contra. É preciso buscar formas de independência da ajudinha do Governo”.

O Festival de Areia foi mencionado. Existiu. Fiz parte dele. Fez sucesso. Sumiu. Voltou. E os cartões postais. Nunca entendi porque aqui não encontrava esse material simples e de fácil transporte para divulgar nosso Estado. A de arte dos nossos cantos e re-cantos turísticos. Toda vez que viajava e queria levar a Paraíba no bolso, ficava peregrinando de banca em banca buscando Tambaú numa foto bonita. O óbvio me entediava. Em Paris, gastei uns trocados ainda dos Francos, em postais belos da Pont Neuf, Notre Dame ou simplesmente de James Dean passeando em ruas escuras, fumando e com seu rosto melancólico na penumbra. Pigalle by night, ou um Café sob outro ângulo. Lembro que o Projeto Lambe Lambe (Ricardo Peixoto) fez coisas interessantes. Gustavo Moura também estava sempre em dia com suas fotos belíssimas do sertão, dos mares e principalmente de gente. Mas projetos pontuados e isolados.

Também lembrei da Loja Inglesa Accessorize, que apesar de ser mais uma loja de adereços, se sobressai na diversidade étnica e cultural, incorpora traços artesanais da Índia, da China (que não mais tem seus mottos “Made in China”, mas “Created in China”!- espero que sem trabalho escravo), criando posters, exagerados nas cores, e fazendo consumidores como eu, enlouquecerem desde a década de 80, quando comprava em suas lojas, brincos, broches, bolsinhas nécessaires, coisas que só anos mais tarde, as lojas de departamento foram atrás.

E o que dizer da também Inglesa Body Shop, com sua visionária empreendedora, Anita Roddick (depois Anita Perilli), a incrementar o slogan “Against Animal Testing” (Contra Testes em Animais) na sua propaganda, quando nem em ecologia se falava ainda. Também nos 80´s adquiri make up com ingredientes sem conservantes, nada de bronzeadores (contra câncer de pele!), e levando às mulheres a acreditarem na beleza única e ao mesmo tempo diversa: “Existem 3 bilhões de mulheres que não se parecem com supermodelos . Somente 8 o são”. Nada de magreza excessiva, nada de anorexia, nada de cabelos espichados .

Vi uma entrevista outro dia na TV com a artista maravilhosa Clarice Niskier, falando do seu espetáculo Alma Imoral (que tive a honra de ver e sair muda do teatro de tão emocionada que fiquei), e de como deu um salto em qualidade, depois que passou a produzir sua arte. Mas que, ainda encontra obstáculos intransponíveis para lidar com os bancos e as instâncias econômicas. O palestrante também pontuou isso: O patrocínio tem que desvendar novas fórmulas para lidar com a mente artística. Um artista não trabalha como um economista. São outras as formas de conduzir o projeto, prazos, e prioridades. A subjetividade de lidar com o dinheiro, novamente se distancia da Economia trabalhada normalmente pelos bancos e investidores. Dêem um voto de confiança à essas mentes loucas e brilhantes dos artistas, pois são eles que nos alimentam à alma!

Foi mencionado também a relação da poesia com a matemática. Como não lembrar daquela colega da pós graduação na UFPE que era graduada nos números e fazia doutorado em Teoria da Literatura? E sempre estava a relatar que números e rimas tinham muito o que contar. No mesmo momento, lembrei de uma matéria que li nos jornais há algum tempo sobre a inclusão de Literatura no currículo da Faculdade de Medicina em São Paulo. As pesquisas mostram que, médicos que se aventuram na arte da ficção, tem sim melhor compreensão da alma humana. E do corpo principalmente. Ou dos dois, felizmente. Que venham os médicos! E não os monstros!

E quando ele ressaltou o papel das escolas que andam em dissonância a tudo isso, pois ao invés de reconhecerem o potencial dos alunos, assassinam à criatividade individual de cada um deles, estremeci. E me perguntei: O que andas a fazer com teus alunos? Quanto a isso, suspirei, pois sei que tento ver essa capacidade de conexão com suas individualidades criativas. Como se cada um tivessem sempre “In search of our mother´s garden”! Para fazer uso do título do ensaio da escritora americana Alice Walker, já comentado em crônica.

Eu que não sou economista, nem econômica, nem empreendedora individual ou cultural, gostei do evento e das palestras, pois tudo que é novo me fascina. E se posso pensar em criatividade, em produtividade, e em cultura principalmente, fico feliz. Pelo jeito saí fazendo tricô com as idéias do Ministério da Cultura, que pelo visto rendeu mais uma prosa.

Parabéns ao SEBRAE (Júlio Rafael), que trás para João Pessoa pessoas e idéias interessantes para compartilhar com a Sociedade como um todo, e que, “intrusas criativas” que nem eu, também tiveram acesso…

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 4 de Setembro , 2011



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