Fernando Patriota: A poesia de Otacílio Batista ecoa 103 anos após seu nascimento

Otacílio Batista

Em 26 de setembro de 1923, nascia no Município de Itapetim/PE, Região do Pajeú da Flores, um dos grandes nomes da poesia popular nordestina: Otacílio Batista. Se estivesse vivo, o poeta completaria, hoje, 103 anos de idade. Sua trajetória é marcada pela força dos versos improvisados, por sua voz marcante e pela habilidade de transformar o cotidiano em arte. Otacílio vem de uma família de cantadores de viola e foi um dos principais poetas responsáveis por divulgar o repente no Brasil e no mundo.

Otacílio, também conhecido como a ‘A Voz do Uirapuru’, construiu sua carreira sólida como repentista, escritor, pesquisador, compositor e intérprete, sendo reconhecido como um mestre da Cultura Popular Brasileira. A sua voz ecoava nas feiras, nos programas de rádio, nos encontros de violeiros e em todos os espaços onde a poesia tinha lugar.

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Dotado de uma memória prodigiosa e de uma inteligência aguda, dominava os mais variados gêneros da cantoria, improvisando sextilhas, décimas e motes com fluidez impressionante. Sua presença no cenário cultural foi não apenas de artista, mas também de guardião da tradição, valorizando a herança do repente e projetando-a para novas gerações.

Otacílio Batista era irmão de Dimas Batista e Lourival Batista, formando a ‘Trindade Batista’. Ao longo da vida, conquistou prêmios, títulos e o respeito de colegas e admiradores, além de ser pauta para vários documentários e programas de televisão. No entanto, sua maior vitória foi manter viva a chama da poesia popular em um país marcado por tantas transformações sociais e culturais.

Sua morte, em 5 de agosto de 2003, deixou uma lacuna imensa na cultura nordestina. Ainda assim, sua obra permanece presente nos livros de cordel, nas gravações e, sobretudo, na memória de quem testemunhou sua genialidade. Celebrar seus 103 anos é reafirmar a importância de preservar a poesia oral como patrimônio imaterial do Brasil. Outro grande poeta, Lourinaldo Vitorino, fez estas estrofes magníficas, um dia depois que Otacílio Batista morreu, em sua casa, na Capital da Paraíba, João Pessoa.

Violas de Luto

As violas de luto soluçando
Dão adeus ao Bocage do repente,
Um fenômeno de arte, um expoente,
Que de cinco a seis décadas improvisando
Sua voz de trovão saiu rasgando
Modulando a palavra em cada nota
Pra cultura um nocaute, uma derrota,
Um desastre, uma perda, um golpe horrendo,
Enlutado o repente está perdendo
Otacílio Batista Patriota

Para a arte esse gênio é o auxílio
Que Deus deu de presente a todos nós
Seu baião sonoroso e sua voz
Soam agora no túmulo de Hercílio,
Com certeza a figura de Otacílio
Nesse instante viaja em cada mente
Num cordel de estrela reluzente
Com seu porte de oficial romano
Qual a John Wayne no Oeste americano
Firme, austero, implacável e surpreendente.

Na arena do verso improvisado
Otacílio passou por toda a prova
Enfrentou Zé Faustino Vilanova,
A caneta estratégica do passado,
Quando Pinto se impôs, foi consagrado,
Duelando com Dimas e Hercílio
A viola era o único utensílio
Que usava no palco esse gigante
Seu revólver era o verso fulminante
Que impunha a grandeza de Otacílio.

O repente sem Otacílio chora,
As viloas de luto cantam e tremem,
As sextilhas satíricas clamam e gemem,
Os sertões no silêncio nesta hora
Ouvem o povo que angustiado implora,
Que Deus abra o portão do céu divino,
E que São Pedro soluce e toque o sino
Que a terra chorando viu perder
Um brilhante, importante ser,
Condutor do repente nordestino.

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