Ribeira transforma tradição do couro em motor de desenvolvimento no Cariri paraibano

Cooperativas e oficinas familiares movimentam economia local, geram emprego e atraem turistas; produção sustentável usa curtimento vegetal e capacita novas gerações.

Foto: Lara Ribeiro/ Portal WSCOM

No distrito de Ribeira, zona rural de Cabaceiras, o couro não é apenas matéria-prima, é também resistência e um motor de desenvolvimento. Famílias inteiras vivem do artesanato, que vai de sandálias e bolsas a cintos e peças típicas de vaqueiro. A cooperativa Arteza, fundada em 1998, é o eixo dessa cadeia produtiva e hoje reúne mais de 60 associados, movimentando a economia local.

“Temos mais de 200 modelos, entre carteiras, bolsas e sandálias. Cada associado representa uma família, então são mais de 60 famílias beneficiadas”, explica o presidente da Arteza, Ângelo Márcio.

Foto: Lara Ribeiro/ Portal WSCOM

A história do couro em Ribeira é antiga e, como conta Josefa Claudiane, artesã e uma das fundadoras da cooperativa, passou por um momento de crise nos anos 1980. “Naquela época, havia 15 pequenos curtumes à beira do rio. Só seis resistiam, e o trabalho estava acabando. Busquei capacitação para melhorar o cheiro e a qualidade do couro, porque ninguém da cidade queria comprar. Foi aí que conseguimos resgatar esse ofício e organizar a produção”, lembra.

Foto: Lara Ribeiro/ Portal WSCOM

Hoje, o curtimento (processo químico e físico que transforma peles de animais em couro) é feito de forma vegetal, usando o tanino extraído do angico, planta típica da caatinga. Esse método é menos poluente e valoriza a sustentabilidade. “O curtimento vegetal deixou o couro mais nobre e sem cheiro forte. Isso abriu portas para vender para fora e expandir a produção”, completa Claudiane.

O trabalho ainda é essencialmente familiar. “Produzo entre 150 e 250 peças por dia, junto com aprendizes que estudam de manhã e vêm para cá à tarde. Já saíram daqui sete oficinas de pessoas que aprenderam conosco e montaram o próprio negócio”, conta Luís Eduardo Farias, da Oficina dos Saberes.

Foto: Lara Ribeiro/ Portal WSCOM

O artesão Cleiton Farias, da Econativaz, compartilha história parecida: passou 17 anos no Rio de Janeiro, economizou e voltou para abrir sua própria oficina em 2019. “Comecei na minha casa, com uma máquina só. Hoje tenho 13 pessoas trabalhando comigo e produzo 2.000 pares de sandálias por mês. Não dou conta da demanda”, relata, destacando que o crescimento gerou “zero desemprego” no distrito.

Foto: Lara Ribeiro/ Portal WSCOM

Outro traço marcante no artesanato é a presença feminina. “Me orgulho de ser mulher e artesã. Foi com o couro que construí minha casa, comprei meu carro e dei estudo para meus filhos”, diz Claudiane. Segundo ela, atualmente cerca de metade dos cooperados são mulheres, rompendo um espaço antes dominado por homens.

Com apoio do Sebrae, Senai, Banco do Nordeste e programas estaduais como o Empreender-PB, a produção cresceu e ganhou mercado. Hoje, Ribeira integra a Rota do Couro, roteiro turístico que atrai visitantes para conhecer curtumes e oficinas. “Quando chega um grupo de turistas, eles passam na oficina, veem a produção e compram na hora. Isso movimenta nossa renda”, diz Cleiton.

Apesar do crescimento, o setor enfrenta obstáculos. A principal dificuldade é atender à demanda crescente sem comprometer a qualidade. “Tenho quase 3.000 pares de sandálias atrasados”, admite Cleiton. Outra meta é ampliar canais de venda, incluindo e-commerce, e formar mais mão de obra para dar continuidade à tradição.

Foto: Lara Ribeiro/ Portal WSCOM

Para os moradores, porém, o saldo é positivo. “Ribeira é um oásis no Cariri. Hoje ninguém precisa sair daqui para buscar emprego em outra cidade. Vivemos do couro e com qualidade de vida”, conclui Cleiton.

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