A soma da competitividade com o número de oportunidades reduzidas torna o mercado musical mainstream um sonho distante para muitos profissionais. No entanto, para aquelas que persistem e pretendem fazer dele a sua principal fonte de renda, o cenário independente aparece como uma alternativa.
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Um estudo internacional, realizado pela MIDiA Research em 2023, apontou que entidades independentes representavam 46,7% da participação do mercado de música mundial. Essa porcentagem equivale a US$ 14,3 bilhões (R$ 77,26 bilhões). A pesquisa levou em consideração dados financeiros de selos e gravadoras de diversos continentes que não eram ligados às maiores do mercado como Sony, Universal e Warner.
A Paraíba é um berço de talentos musicais e cada vez mais é reconhecida pela sua veia cultural. Mas, mesmo com o passar das gerações, a ascensão de artistas locais e independentes continua encontrando barreiras para se concretizar.
O mercado de música independente paraibana sobrevive apesar dos percalços e, além disso, traçando novas estratégias para alcançar o seu reconhecimento. Um exemplo deste movimento é a gravadora independente Taioba Music, que possui como um de seus ideais a valorização da música nordestina.
Taioba Music
Esse conjunto de fatores, que pode soar como um sinal para a desistência de alguns, move outros como combustível para transformar a realidade, mesmo que aos poucos. Esse é o caso do Sérgio Pacheco, proprietário da Taioba Discos e diretor da Taioba Music.
A Taioba surgiu como um selo de discos de vinil com edições inéditas e reedições, como a edição comemorativa de 10 anos do primeiro disco da banda pessoense Glue Trip, que deu as boas-vindas do selo ao mercado fonográfico. De lá pra cá, a Taioba participou do lançamento de nomes potentes da música paraibana como Papangu e Cabruêra.
Em uma entrevista exclusiva para o Portal WSCOM, Sérgio explicou um pouco mais sobre o conceito da gravadora independente. Um de seus maiores diferenciais é a busca pelo resgate de lançamentos que ficaram restritos à mídia física e que só agora, anos depois, estão chegando às plataformas digitais.
Mesmo com pouco tempo de atuação neste mercado, a Taioba já tem outros projetos em andamento – que são escolhidos a dedo pela gravadora.
“Eu consigo te adiantar que temos dois discos que a Taioba está efetivamente participando e financiando, certo? Então essa é nossa segunda iniciativa como gravadora independente, a gente tá escolhendo alguns projetos para investir e obter algum retorno neles”, contou o diretor.
Um desses projetos é o segundo disco da Papangu, que será gravado em setembro deste ano durante a turnê europeia da banda. Além desse, outros projetos do grupo e de mais artistas independentes também estão a caminho,
Visibilidade e valorização
Embora já consolidada, a música paraibana – principalmente a de artistas independentes – ainda sofre com o fenômeno de não valorização dentro do próprio estado. Muitos desses artistas são mais valorizados fora de casa. Um exemplo trazido por Sérgio foi a Glue Trip, que teve seu primeiro disco, intitulado “Glue Trip”, lançado apenas na França e a mídia física não havia chegado ao Brasil até então. A Papangu passou pela mesma situação com “Lampião Rei”, disco que saiu no ano passado apenas no Reino Unido. Ambos os casos só tiveram cópias em solo brasileiro quando trazidos pelas próprias bandas.
“Essas bandas foram primeiramente valorizadas no exterior para depois serem valorizadas no Brasil. Eu quero mudar esse paradigma. Então a nossa missão como começou aí, né, do estilo de vinil trazendo esses artistas de Vinil para o Brasil”, disse Sérgio.
“Estamos dando uma uma plataforma para que o artista independente possa formatar o trabalho, executar o trabalho, ir para o meu estúdio, produzir essas gravações e masterizar com ótima qualidade, com profissionais de excelência que temos no estado da Paraíba, para ter resultados excelentes finais e que sejam viáveis comercialmente”, continuou.
Sérgio também argumentou que o país está vivendo um segundo êxodo nordestino, com artistas jovens indo para São Paulo em busca de oportunidades que não encontram aqui. A distribuição de shows também é outro fator que o Sudeste leva vantagem.
“As bandas acabam escorrendo para o Sudeste fazer show e voltam. Isso acontece bastante. Então assim, são inúmeras dificuldades e para a gente não é diferente. A questão da mídia física, por exemplo, a gente tem um público muito maior no Sudeste, mesmo sendo de bandas nordestinas. E aí isso me deixa até um pouco triste, que a Paraíba, às vezes, não valoriza sua própria cultura. E é isso que a gente tá tentando mudar”, ressaltou.
Oportunidades e Mercado de Trabalho
A valorização da música independente paraibana vai além de prestigiar artistas locais, como também impacta na economia do estado. Mesmo sem a estrutura e financiamento que o eixo Rio – São Paulo recebe, a Paraíba possui mão de obra qualificada, sem a necessidade de recursos e profissionais externos.
O mercado musical engloba uma série de profissionais que são formados no estado, mas que podem acabar indo para fora em busca de oportunidades.
“Nossos projetos lançados possuem uma grande diversidade de atividades que precisam ser executadas. Vai desde, por exemplo, um técnico de som durante a gravação, até um profissional de masterização, assessoria de imprensa, um profissional para produzir a capa do disco, um fotógrafo. Então assim, as atividades econômicas ao redor do mercado fonográfico, são extremamente diversas”, argumentou Sérgio.
Monetização
Por mais contraditório que seja, mesmo em meio a uma era digital, uma parcela importante da monetização dos artistas independentes e iniciantes não é fruto dos plays em plataformas de streaming. Para muitos deles, o que de fato garante a longevidade da carreira é a venda de produtos físicos, conhecidos como merchandising.
E é justamente nessa parte que a Taioba se destaca, a venda e o desenvolvimento de discos de vinil é um destaque para os artistas que visam essa forma de monetização.
“Quando você pega um artista que tem ali seus plays no Spotify, que flutuam bastante e rende muito pouco, e você oferece para ele um produto que ele pode levar para o show e vender para para sua base de fãs e aquilo de fato dá o dinheiro, dá uma renda bem mais expressiva do que o streaming. A gente tem um diferencial muito grande como gravadora independente”, concluiu o empresário.