A parceria de Luiz Gonzaga com Humberto Teixeira é responsável pela produção de belíssimas músicas do repertório nacional. Entre elas destaca-se “Qui nem jiló”, gravada pela primeira vez em 1950.

“A gente lembra só por lembrar/o amor que um dia a gente perdeu” Uma lembrança passageira, ao acaso, sem marcas de ressentimento. Recordar um amor vivido que se foi sem traumas, num final sem brigas. Uma história que vale a pena ser lembrada com satisfação.

“Saudade inté que assim é bom/pro cabra se convencer/que é feliz sem saber/pois não sofreu”. Difícil compreender uma saudade boa, mas os autores ressaltam que não houve sofrimento por amor. E o cabra se convence então que é feliz sem saber. Uma nostalgia agradável. Por isso sem padecimentos, sem a experiência dolorosa de uma paixão conturbada. Percebe-se que o romance vivenciado foi todo na paz, numa cumplicidade de emoções inesquecíveis.

“Porém se a gente vive a sonhar/com alguém que se deseja rever/saudade intonce aí é ruim”. Mostra a diferença de quando a saudade dói. Sentir falta de alguém que não quer esquecer. Sonhar com a repetição de um tempo pleno de intensa e incontrolável paixão. Viver a ansiedade de reencontrar o amor antigo. Nesse caso sim “a saudade é ruim”.

“Eu tiro isso por mim/que vivo doido a sofrer/ai quem me dera voltar/ pros braços do meu xodó”. Vem a declaração de que deseja voltar ao antes, “pros braços do seu xodó”. Não consegue conter a saudade. E isso provoca o sofrer.

“Saudade assim faz roer/e amarga qui nem jiló/mas ninguém pode dizer/que me viu triste a chorar”. A fruta amarga como comparação do que sente nessa saudade. No entanto, são tão boas as recordações que não se permite ser visto chorando. Procura não demonstrar a tristeza que toma conta do seu coração.

“Saudade o meu remédio é cantar”. Não há outra forma de superar essa melancolia, a não ser cantando.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.
• Por este texto presto minha homenagem à cantora paraibana Lucy Alves que, interpretando essa música no “The Voice Brasil”, encheu de orgulho a todos nós paraibanos com seu talento.